9 de fevereiro de 2011

Opiniões que Marcam

(*) Brand Design Manager/Brandia Central e Presidente do Clube de Criativos de Portugal


 


 


Sempre que me dirijo a uma certa bomba no Estoril, quer para abastecer o carro, comprar um jornal ou o gelo que garante a frescura de uma caipirinha de maracujá, sou inevitavelmente bem atendido. Desde há anos que tenho essa percepção e mais recentemente, face a mais uma exibição de solicitude e sorriso, vim a saber que o proprietário dessa 'bomba-simpatia' é o mesmo desde que me concedi o privilégio de viver na Linha.


 


O serviço que prestam ali ao lado da rotunda dos Condes  Barcelona Inclinados não é exclusivo na sua essência, no fundo proporcionam o mesmo que qualquer outra bomba, vendem combustíveis, tabaco, revistas e jornais, pinheirinhos de aroma duvidoso para pendurar no retrovisor, têm multibanco, algum serviço de conveniência, etcétera. Mas ganha exclusividade quando se diferencia da concorrência, tornando-se preferencial para alguns consumidores, como é o meu caso.


 


Na frugalidade dessa constatação assenta um factor básico que pode ditar o sucesso ou o insucesso de uma marca, ou seja, a qualidade da sua relação com o seu público. A partir do momento em que determinada marca cumpre com, ou mesmo suplanta, as minhas expectativas, com a excelência de um serviço ou produto, dificilmente deixarei de a ter como referência. Não sei se por consciência disso ou pela mera casualidade de ser uma pessoa simpática, e que transmite essa simpatia aos seus colaboradores, o proprietário da bomba em questão tem visivelmente maior clientela que a concorrência da redondeza. Uma bomba de eleição, portanto.


 


No âmbito de outro escrutínio, o doutor Fernando Nobre, que encabeça uma das mais respeitadas organizações portuguesas, de cuja marca tive o prazer de trabalhar, corajosamente transpôs o seu universo de actuação para colocar em causa uma marca degradada, a da classe política. A sua reconhecida capacidade para gerir situações de crise foi o suporte para essa exploração nos pantanosos terrenos políticos, mas acima disso estava sua personalidade e a credibilidade sustentada pelo seu carácter. Apesar de não ter atingido os seus ambiciosos objectivos, não se pode dizer que tenha ficado mal na fotografia. Acabou a aventura com a sua marca pessoal intacta, senão mesmo melhorada, e a AMI, no mínimo, teve aumentado o seu reconhecimento.


 


Entretanto, como as presidenciais não tiveram uma segunda volta, perderam a oportunidade de serem mencionadas no The Daily, lançado com grande destaque há escassos dias por Rupert Murdoch e Eddie Cue. Se o nome Murdoch dispensa apresentações, com o Cue isso já não acontece. Esse espectáculo mediático previa inicialmente a participação do guru da Apple, cujo nome nem preciso enunciar, mas que por razões de saúde não pode estar presente. Daí a página de lançamento registar a presença de um “special guest from Apple”, depois identificado como seu Vice Presidente dos Serviços de Internet. Têm-se discutido muito o que será da Apple após a inevitável e cada vez mais iminente saída de Jobs, por tudo aquilo que a sua pessoa representa aos seus devotos em todo o mundo. Sem desmérito ao Eddie ou a qualquer outro administrador, e mesmo tendo em conta que o processo de sucessão já está mais do que  planeado, o facto é que não bastará alguém vestir-se com uma camisola preta de gola alta e um par de jeans para apresentar os futuros produtos da marca.


 


É inquestionável a importância do papel desempenhado pelos dirigentes na relação com os seus públicos, seja na gestão de uma bomba de gasolina, de uma associação humanitátria, de uma empresa que é muita fruta… ou mesmo um país. Será que o senhor Mubarak não sabia disso?

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