King of Lalaland (*)
A Marta é escriturária numa empresa de exportação há mais de 15 anos. Nos dias melhores, é tratada por ‘galinha acéfala’ pelo seu superior hierárquico, nos piores a expressão anterior parece um piropo. Marta sabe do seu valor e sabe que conseguiria melhor, mas ali tem um emprego e um ordenado ao fim do mês, por isso engole os insultos e lá vai aguentando cada dia o melhor que pode. Afinal os tempos não estão para aventuras.
Álvaro é deputado pelo maior partido nacional. Acidentalmente teve conhecimento de um esquema de corrupção que envolve alguns dos seus colegas. Sempre foi uma pessoa honesta e consciente dos seus bons valores e pensa denunciar o caso às autoridades competentes. A sua mulher aconselha-o a não o fazer, afinal foram muitos anos de trabalho e sacrifício para chegar aonde chegaram e uma traição desse género poderia comprometer todas as aspirações para o futuro. O melhor é fingir que não sabe de nada. Álvaro acaba por concordar, afinal os tempos não estão para aventuras.
Joaquim é director de marketing numa grande empresa. Ambiciona ser muito mais, mas, tirando as imbecilidades que tem de aturar por parte de alguns administradores, a vida profissional até não lhe corre mal. Sabe que poderia fazer muito melhor, mas isso implicaria fazer diferente, fazer como nunca fez, e Joaquim, acha que aquela administração além de não o merecer, quase seguramente não reconheceria o esforço. Na dúvida mantém tudo como está porque sabe que se ali nunca vai fazer nada de extraordinário, também não corre o risco de falhar redondamente e afinal os tempos não estão para aventuras.
Etc. Etc. Etc.
Quanto a mim, um dos grandes problemas dos portugueses e consequentemente de Portugal prende-se com a proliferação dos tomates cherry.
Os tempos nunca estiveram ou irão estar absolutamente propícios para aventuras, mas entre os que se arriscam a vivê-las encontram-se sempre os responsáveis por passos gigantes na evolução do mundo. Se continuarmos a fazer tudo da mesma maneira, fica tudo como está e como está não está bem, pois não?
Que saudades dos tempos dos fenómenos agícolas do entroncamento em que apareciam, entre outras raridades, tomates do tamanho de abóboras. Espero que esta crise sirva pelo menos para o surgimento de um ou outro produto nacional desse estilo.
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