*Director de Mercados Internacionais Sumol+Compal
Admito que dá muito jeito, e por isso também frequentemente uso a expressão “Consumidores”. Os pelinhos arrepiam-se-me todos, e mentalmente dou um passo atrás, e procuro de novo re-focar-me nas Pessoas que Consomem.
É tão fatal como as conversas de café sobre os “políticos” (que são invariavelmente manhosos ou incompetentes), os “jornalistas” (invejosos ou metediços), os “publicitários” (presunçosos ou calões), etc, etc. Em independência de cada uma dessas pessoas ser bom ou mau chefe de família, trabalhar muito ou pouco, merecer ou não os chavões. E sim, os “políticos”, os “jornalistas”, os “publicitários” são também eles “Consumidores” (há quem diga).
Os estereótipos “os Consumidores querem X…” ou “não aceitam Y” partem do princípio que cada um de nós, quando investido no supremo poder de uso da carteira ou do cartão de crédito subitamente se transfigura, deixa de ser aquela coisa complexa e imprevisível (o Indivíduo) que fascina a Humanidade desde que conseguiu sair das cavernas. Passa a ser algo mensurável, estudável, previsível. E atacável. Transformável, de acordo com um conjunto estruturado de variáveis, em “target”.
E todos assumimos um comportamento mimético quando nos transformamos em Consumidor: o Consumidor tem sempre razão. Pois claro. Mesmo quando assume comportamentos que não compreendemos, mesmo quando fazemos como “Consumidores” algo que odiamos que nos façam se formos nós a prestar um serviço. Mesmo quando assumimos perante estranhos comportamentos que nos envergonhariam se admitíssemos a um familiar.
Tenho um enorme respeito e gratidão perante as Pessoas que Consomem os meus produtos. Em cada acto de compra, puxaram pela carteira para me pagar parte do salário. Fizeram-no com o seu próprio esforço, a trabalhar umas horas ou uns minutos para comprar uma coisa em que eu também investi tempo. É um bocado como um trabalho de equipa.
E cada uma das Pessoas que consome os meus produtos fá-lo depois de ter trabalhado frequentemente horas (a mais), depois do (pouco) tempo dedicado à família, no meio do (imenso) ruído que lhe diz para comprar outra coisa qualquer.
Cada um dos que chega ao fim deste processo diário e me entrega alguns dos Euros/Tempo que lhe sobra merece aplauso, é um herói.
Por isso, de cada vez que as vendas me baixam, procuro regressar às origens, à humildade primeira que me leva a agradecer cada Venda, em vez de partir logo para amaldiçoar os Consumidores que de repente se tornaram infiéis.
Também isto é curioso: frequentemente questionamos a (decrescente) fidelidade dos Consumidores (pois…) às Marcas, e raramente daí resulta uma avaliação da (in)fidelidade das Marcas às Pessoas que as consomem.
Takes two to tango, right?
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