30 de novembro de 2009

Opiniões que Marcam


Videos amadores no You Tube, música amadora no mesmo sítio, fotos amadoras no Flickr, artigo amadores na Wikipedia e nos cerca de 700.000 posts de blogs diários por esse mundo fora; e até sexo amador (muito mau por sinal) pela Internet fora.



Os conteúdos da Web 2.0, ou, de forma mais restrita, da blogosfera,  moldam hoje de maneira muito relevante a cultura popular e sobretudo as nossas opiniões sobre todos os assuntos.
Fazemos os nossos próprios diagnósticos “online” sobre a gripe A antes de os contrapor ao pediatra dos nossos filhos, discutimos com o vendedor de LCD com base em opiniões de outros, partilhadas em sites comunitários, esgrimimos argumentos sobre o código do IRS, retirados daquele fórum sobre fiscalidade, com o nosso contabilista. Ou seja, enfrentamos sem medo os “especialistas” com base em “coisas” que lemos.
É bom. Dá-nos confiança…



Era aliás de esperar que assim fosse, mas é um paradoxo: numa altura em que o conhecimento à disposição do ser humano é mais vasto do que nunca e sobretudo mais técnico-compartimentado, digamos assim, e em que devíamos ser mais ignorantes sobre tudo, não!, mostramo-nos mais especializados em tudo. É esta ilusão que a Internet alimenta de forma muito perigosa e altamente fantasista.



A origem dos conteúdos dos sites, fóruns e blogs que nos instruem não é controlada por ninguém. A selecção que fazemos também não. Uma pesquisa no Google sobre Antropologia não nos hierarquiza os resultados por ordem qualitativa senão o Levy-Strauss apareceria em primeiro. E nem aparece.
A Web 2.0 está cheia de amadores.
Seguem-se dois efeitos alarmantes: 
Ponto1: a explosão de conteúdos na Internet desenvolve o diletantismo e a superficialidade (modelo que a Televisão já tinha inaugurado há 20 anos).
Ponto2: essa mesma explosão relega o verdadeiro conhecimento dos especialistas para um plano menor, condenados que estão a concorrer com a mediocridade dos conteúdos vigentes.



Um exemplo recente do que quero dizer está no recém-lançado site www.LePost.fr.
Lançado pelo insuspeito (até agora pelo menos…) jornal francês Le Monde, mas independente deste em termos de portal de comunicação, é uma newsletter on-line de fluxo contínuo. A “informação” lá contida é alimentada por qualquer um, confundindo-se com um site social de notícias baseadas em opiniões pessoais. E o problema é esse: a confusão entre objectividade e emoção que nos tolda a liberdade de formar livremente a nossa própria opinião.


NB: E agora dirão: mas que legitimidade tem este para vir falar destes assuntos? Óptimo, direi eu, se o fizerem, é prova que mantêm alguma clarividência e espírito crítico em frente do vosso computador.


 


 


 

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