10 de setembro de 2009

Opiniões que Marcam

“De açúcar, ovos, água e muito saber se fazem os Ovos Moles de Aveiro”. É esta a primeira frase de um tríptico promocional da cidade. Vêem-se moliceiros em regata, as casas riscadas da Costa Nova, arte xávega ou mesmo azulejos, mas são os elementos sobreanos da doçaria tradicional que abrem as portas à doce descoberta da região.


 


Eram segredo conventual de freiras dispostas a dar uso aos inúmeros ovos que recebiam, quando ovos eram moeda de pagamento. Foram medicamento quando eram muitos os défices nutritivos por saldar. Sofreram a inevitável laicização dos tempos e o saber foi democratizado. Passaram de mão em mão e boca em boca até às doceiras e produtores de hoje, que alimentam a gula de quem passa e o desenvolvimento económico da região.


 


É que pelas últimas contas da Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro, a APOMA, são mais de 3 as centenas de pessoas que o sector emprega, movimentando um volume de negócios de 5 milhões de euros. Os turistas que atrai são do mundo inteiro, mas o produto é inegavelmente “Made In Portugal” e absolutamente “Produzido em Aveiro”. Da madeira de choupo que os senhores Ferreira transformam em pipas, onde o doce é guardado, até aos motivos que formatam as hóstias que o envolvem, tudo tem raíz aveirense.


 


Mas à APOMA não bastou o reconhecimento turístico e potencial económico desta iguaria, que se encontrava à mercê de quem a quisesse (e soubesse) preservar, mas também de quem nela via uma fórmula (mesmo que adulterada) de fazer negócio. Contra as adições de farinha e outros truques para produzir mais, a Associação uniu-se à Universidade de Aveiro, ouviram as doceiras e criaram pârametros para a receita. Um primeiro passo contra as falsificações e no caminho da Indicação Geográfica Protegida (IGP), a certificação dada pela Comunidade Europeis, que, desde Abril, veio garantir que os Ovos Moles só podem ser feitos na região demarcada.


 


Todos os produtores que cumprirem as regras podem vir a exibir o selo de Indicação Geográfica Protegida. Ficam asseguradas a qualidade do produto, a satisfação do consumidor, a conservação de uma receita histórica, a manutenção de uma actividade económica, a visibilidade da doçaria tradicional, a memória de uma região e a potencialidade de um país com muitos doces para dar, desde que bem preservados.


 


 

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelaspor Catarina Santana, jornalista.

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