A comunicação é uma dimensão da existência inata a todos os seres vivos. Quase todos são capazes de trocar informação entre si, mas é no reino animal que ela ganha ainda mais complexidade e na espécie humana que atinge o estado mais avançado que conhecemos (isto até descobrirmos espécies capazes de telepatia, Uri Geller à parte).
Esta evolução, mesmo à medida que se torna mais complexa, assenta quase sempre em princípios de pragmatismo e simplicidade. No entanto, a dada altura começámos a revelar tendência para confundir complexidade com complicação. Os resultados são mensagens que muitas vezes se perdem ou que resultam em frustração.
Por exemplo, no site da Universidade Católica Portuguesa, na descrição do Curso de Comunicação Social e Cultural, lê-se: “o Curso […] foi reestruturado de modo a consignar o travejamento teórico ancilar de cada perfil, que lhe reconhece especialidade científica […]”.
Duvido que a grande maioria dos potenciais interessados num curso de comunicação consiga perceber exactamente o que é “consignar um travejamento ancilar”, e que isso os ajude a escolher essa licenciatura. Até o meu corrector ortográfico que, de facto, nem sempre é brilhante, desconhece estas duas últimas palavras. O facto da frase se referir a um curso de comunicação traz-lhe uma ironia interessante, mas não é um caso isolado.
O carácter hermético de muitas mensagens que utilizamos para comunicar em sociedade e a falta de consideração pelos destinatários tipo das mesmas, podem ser reflexos de uma ideia distorcida de “excelência na comunicação”. Esta “excelência” surge associada a uma forma de elitismo comunicacional bacoco que, infelizmente, se encontra ainda no nosso sistema de ensino e em franjas da nossa sociedade. Qualquer pessoa que tenha de redigir um requerimento oficial a uma instituição pública ou tentar perceber e-mails onde os autores tentam fazer literatura, conhece bem o problema.
As boas notícias são que esta tendência parece estar a regredir. Se, há algum tempo, muitas pessoas ficavam intimidadas pelo “doutor bem-falante”, hoje em dia já se percebe uma nova geração que tolera cada vez menos este tipo de discurso obscuro e complicado. Os “especialistas em comunicação”, sejam das áreas de jornalismo, R.P. ou marketing, também aqui têm um papel importante, na forma como concebem as mensagens que chegam às pessoas. Até porque, ao contrário do que se possa pensar, só teremos a ganhar com uma sociedade mais ágil e inteligente na maneira como simplifica e torna mais eficaz a comunicação entre os seus agentes. O maior desafio é fazer isto sem empobrecer a comunicação, mas é esse valor que distingue sempre os grandes comunicadores.
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