A crise económica sem precedentes que atravessamos veio colocar o Capitalismo em perspectiva de um certo moralismo, com razão de ser porque na origem da depressão está uma crise de valores.
A “ganância” do sector financeiro tem provavelmente as costas mais largas do que devia ter, mas é certo que a ética não é propriamente reconhecida como um valor estruturante do sistema económico actual.
Citemos apenas como exemplo mais emocional e emocionante os publicitados excessos dos Presidentes de empresas em profunda dificuldade financeira, que reduzem custos com pessoal mas se atribuem a si próprios chorudos “golden parachutes”.
Paradoxalmente, há hoje uma tendência de fundo na sociedade que vai em sentido moral oposto. As pessoas, enquanto consumidores, preocupam-se mais.
Mais com o futuro, mais com os colegas de trabalho, mais com os deserdados da vida, mais com os amigos, como se forçassem a dissonância com o modelo vigente no qual perderam a confiança e apostassem na Generosidade.
Os modelos de partilha de informação e de criação baseados na Internet e nos sites sociais fornecem combustível ao movimento.
É muito visível nos “posts” que povoam esses sites a forma como a Generosidade, encarada como Solidariedade, preocupação com a Sustentabilidade, ou vontade de Participação Social, se tornou um símbolo estatutário.
E como o Twiter, o Facebook ou o FlickR não representam apenas franjas sociais exóticas mas sim o verdadeiro “mainstream” cultural moderno, então estamos perante uma verdadeira tendência de fundo.
Instalem todos os marketeers uma activa monitorização sobre o que a blogosfera diz das suas Marcas e verão que existe “online” um verdadeiro discurso ético sobre a forma de consumir os seus produtos, muito diferente da forma como a Empresa os anuncia.
O desafio que se levanta ao Marketing, perante a nova Geração G(enerosa) de consumidores, passa antes de mais por evitar as operações cosméticas do género “compre um par de sapatos e ofereceremos outro a uma criança descalça”.
Não é lamechice que a Geração G – culta, informada e muito envolvida – reclama, mas sim propostas de valor que tenham relevância económica mas sejam eticamente significantes (como a IKEA que oferece o aluguer de bicicletas com atrelado aos seus clientes dinamarqueses para que transportem as suas compras).
Mas o consumidor G é também um negociador que espera tirar o melhor partido da sua relação com as Marcas, e por isso ele não espera que alguma coisa lhe seja dada de graça.
As Marcas devem continuar a construir-se em cima de relações comerciais justas e não em detrimento da rentabilidade.
O que muda é o “mindset” da Empresa e o espírito com que estabelece relação com os seus públicos. E não vale fazer de conta.
Nota: E já agora, vale a pena reflectir à luz desta ideia na recente campanha da Galp, promovendo a partilha de automóvel.
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