Enquanto professor do Ensino Superior, a problemática da criação e aprovação de novos cursos sempre foi um tema que me preocupou. Particularmente agora que se aproximam as avaliações internacionais. E porquê? Porque, em meu entender, não tem havido, nos últimos tempos, uma reflexão profunda quanto ao tipo de cursos criados, conteúdos e sua adequação às necessidades do mercado. Aliás, esta situação não é nova, ela surge no inicio dos anos 90, com a emergência de Instituições de Ensino Superior Privado e Cooperativo e respectiva proliferação de cursos ali ministrados, sem qualquer regulação.
Convido o leitor a olhar, mesmo que transversalmente, a oferta de cursos de comunicação em todos os subsistemas de ensino superior em Portugal. Provavelmente sentirá o mesmo que eu, e ficará estupefacto com a dimensão atingida.
Ora, podemos constatar que não há instituição que não tenha o seu curso de comunicação, com designações como, “Comunicação Social”, “Comunicação Organizacional”, “Comunicação e Relações Económicas”; “Comunicação e Relações Públicas”; “Comunicação e Multimédia”; “Relações Humanas e Comunicação Organizacional”; “Jornalismo”; “Jornalismo e Comunicação”; “Publicidade e Relações Públicas”; “Ciências da Comunicação”; “Ciências da Comunicação e Marketing”, etc., etc.
O mais constrangedor é que parte desta formação é leccionada por instituições sem vocação nesta área do conhecimento e desprovidas de meios tecnológicos, com raros docentes preparados para tal e sem qualquer ligação à investigação. Aliás, os relatórios da Comissão de Avaliação Externa, da Adispor, para a área da Comunicação e Informação, efectuados em 2002 e 2003 revelam conclusões como: “instituições que contam com educadores que alimentam uma aversão à tecnologia”; “transmissão de conhecimentos e modelos ultrapassados”; “número diminuto de docentes profissionais da área de especialização do curso”; “ausência de disciplinas práticas na área de formação base do curso”; “ausência de investigação por parte dos docentes” etc.
Ora, na minha opinião, a proliferação de cursos nesta área do conhecimento, acaba por afectar negativamente a imagem das instituições de ensino; já que não cumprem com o seu maior propósito, o de fornecer profissionais qualificados para actuar neste sector fundamental da sociedade; por prejudicar os estudantes ali formandos e a sua capacidade de inserção profissional; por embaraçar estes novos “profissionais”, que ficam conotados como mal preparados; e por prejudicar as próprias empresas, que acabam por recrutar maus profissionais, alguns deles sem qualquer responsabilidade.
Face a esta situação, entendo, que é a altura da academia se revelar capaz de reflectir sobre esta problemática, de modo a evitar os distanciamentos entre a si e as organizações/empresas; avaliar seriamente os cursos, a fim de se evitar a transmissão de conhecimentos e modelos ultrapassados e preparar profissionais para lidar com as especificidades do sistema de comunicação actual; incrementar a investigação e rejeitar a pesquisa desarticulada entre instituições.
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