Comecei a comprar revistas em inglês por volta dos 12 anos. Não por ser particularmente versado na língua ou ter vontade de adquirir vantagem competitiva no ensino da mesma. Tinha, isso sim, como bom adolescente a roçar o nerd, uma vontade enorme de me manter actualizado em interesses que iam do basquetebol da NBA aos jogos da SEGA e passavam pelo Wrestling americano, chegando mais tarde ao campo da música e do cinema.
Não que grande parte dessas revistas não tivessem equivalente em língua portuguesa. Mas havia um problema: não eram interessantes. Não estava em causa o volume de informação. Muitas vezes o próprio grafismo também não ficava muito atrás. O problema era outro: faltava-lhes personalidade. Os artigos eram insípidos e os jornalistas escreviam de forma indistinguível uns dos outros. Do lado oposto, as revistas inglesas (mais até do que as americanas) conseguiam combinar um estilo coloquial com informação útil e cativante, pontuada sempre por um sentido de humor impecável e um estilo com que um adolescente ou até um jovem adulto se podia identificar. Tinham, utilizando uma expressão cara à literatura anglófona, uma voz própria.
Ao contrário do que se possa pensar, o encontrar uma voz não é um exercício egocêntrico. É uma dimensão pessoal da comunicação que ressoa numa audiência, e que sem ela não faz sentido. Um conceito relevante na literatura, no jornalismo e, claro, na comunicação das empresas e instituições.
A importância da voz na comunicação corporativa é fulcral. Esta dimensão, durante muito tempo foi confundida, senão ofuscada, pelo “megafone” da publicidade. Embora a tendência esteja a alterar-se, muitas empresas, instituições e marcas continuam a manifestar dificuldades em apresentar uma “personalidade” coerente, uma voz, que se mantenha perene, ou que evolua, ao longo das poderosas – mas muitas vezes efémeras – campanhas de publicidade. A escrita soporífera de comunicados institucionais ou as afirmações vagas e superficiais que encontramos nas “missões”, “valores” e “visões” da maioria das grandes empresas ou a apresentação corporativa entediante que nos faz um quadro médio, são o melhor exemplo.
A história continua a demonstrar que não é preciso ter uma grande personalidade para ter sucesso. Como algumas pessoas, há empresas que incorporaram o cinzentismo na sua identidade e continuam a arrastar-se com resultados satisfatórios. Mas essas nunca serão memoráveis. Não deixarão recordações e no dia em que forem ultrapassadas por um concorrente que tenha a personalidade, a voz, que lhes falta, ninguém dará pela sua ausência.
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