Contra a opinião de muitos que consideram sua obrigação criticar tudo o que é nacional, apraz-me dizer que considero o Magalhães uma excelente ideia – um computador portátil, com um mínimo necessário de funcionalidades a um preço francamente mais baixo e com uma razoável incorporação nacional … alguma coisa contra?
Inserido numa ambiciosa estratégia governamental de desenvolvimento da sociedade de informação, via Plano Tecnológico, o brand name do produto permite uma abertura internacional, nomeadamente aos países da América Latina.
A estratégia de lançamento foi feita com significativo envolvimento do primeiro-ministro, o que permitiu ao produto granjear uma rápida notoriedade sem necessidade de investimento publicitário. Em poucos dias, a marca ascendeu ao top da categoria – uma verdadeira proeza.
Como seria de esperar, não tardaram a aparecer as primeiras críticas: notícias sobre acções com professores, com algum “folclore” ,veiculadas abundantemente nos órgãos de comunicação social e, seguidamente, por parte de conhecidos humoristas que viram no tema uma inesperada matéria-prima para sátira (em linha, aliás, com o gostinho tão português de dizer mal do que é nosso!)
Não obstante o acréscimo de notoriedade, a imagem da marca não ganhou muito com isso… Um detalhe: Numa sessão da Semana de Marketing, da APPM, quando Carlos Coelho, da Ivity Brands, referiu o Magalhães perante uma centena de alunos universitários, ouviu-se na sala um generalizado risinho de troça. A verdade é que, quando questionados sobre quantas destas pessoas haviam já visto o produto, apenas quatro o tinham feito. Para os restantes, apenas a imagem pouco nítida de um produto para crianças e de inferior qualidade…
Esta (pouco fundamentada) reacção resulta de um espírito, habitual entre nós, de denegrir as nossas próprias realizações, explorado ad nauseum por quem mais não faz do que ecoar os valores e (des)crenças sociais mais arreigadas entre nós.
A realidade é como é, e com ela temos de viver. Contudo, é triste pensar que se o Magalhães fosse da Apple, fabricado na Alemanha, com design sueco ou promovido por uma estrela da moda, escassearia tanta coragem para dizer mal!
Numa perspectiva de Marketing, a construção do posicionamento de uma nova marca não é tarefa simples, em particular neste caso onde o made in da marca é, infelizmente, uma associação negativa à nascença.
Em tal contexto, o papel do marketing passa por procurar neutralizar, dentro do possível, algumas das forças negativas, difusoras de associações indesejáveis. Como diriam os meus amigos brasileiros: “em rio que tem piranha, jacaré deve nadar de costas”.
Comentários (0)