O Ressurgimento dos Madredeus através do lançamento do seu novo álbum “Metafonia”, é razão para nos congratularmos, quer enquanto melómanos, quer enquanto marketeers. Enquanto melómanos (para os que o são) porque voltamos a poder desfrutar de música de muita qualidade, que nos transporta agora para novas latitudes; enquanto marketeers, porque estamos perante um invulgar exemplo de preservação e desenvolvimento de uma marca de cultura.

 

Existem marcas de cultura com uma gestão mais facilitada que outras. Não pretendendo efectuar uma análise teórica profunda acerca da classificação deste tipo de marcas, é-me útil, no entanto, para este efeito, dividi-las em dois grandes grupos: as marcas instituição e as marcas criadoras de cultura (no sentido estrito, vulgo artistas ou grupos destes).

 

Instituições como o CCB, a Casa da Música, a Gulbenkian ou Serralves, em Portugal e o Metropolitan, a Tate ou o Royal Albert Hall noutros países, são marcas cuja gestão de qualidade pode permitir uma longevidade potencialmente maior que a dos bens ou serviços estritamente económicos. Já as marcas criadoras de arte tem habitualmente um carácter mais efémero, porquanto têm normalmente o seu núcleo identitário e os elementos diferenciadores centrados na performance e/ou notoriedade de indivíduos (as excepções que me ocorrem são as orquestras e companhias de teatro e dança).

 

Os Madredeus são um bom exemplo de gestão de marca criadora de arte, pois encararam as recentes saídas do grupo como uma oportunidade para a inovação e o desenvolvimento.

 

Com este ultimo álbum, os Madredeus alargam as suas referências de Portugal para a Portugalidade (leia-se países com ligação à cultura portuguesa) mantendo uma interpretação cosmopolita destas culturas, potenciando ainda mais a sua interpretação por outros públicos.

Este coerente desenvolvimento, é um passo revelador do potencial dos Madredeus para alargar a sua base de consumidores, fidelizar os actuais e continuar a contribuir para a divulgação da cultura portuguesa no Mundo.

 

Com este movimento, creio que temos Madredeus para mais umas décadas.