4 de novembro de 2008

Opiniões que Marcam

Almeida Garrett escreveu, assim, na sua obra ‘Viagens na Minha Terra’: “Um dos locais mais lindos e deliciosos sítios da terra é o Vale de Santarém, pátria dos rouxinóis e das madressilvas, cinta de faias belas e loureiros viçosos”. Uma passagem do escritor português transporta-nos àquela que é a pátria do campino, homem bravo, guardião da lezíria, do gado e do touro e à terra do mais puro-sangue cavalo lusitano.


 


Na primeira paragem é a capital do Ribatejo, conhecida como “Capital do Gótico”, que nos recebe. Em Santarém diz-se que os raios de sol realçam ainda mais a beleza de um dos patrimónios artísticos mais antigos do país. O azulejo faz parte da vida da cidade e os majestosos murais, que saltam à vista no mercado municipal ou na estação de caminhos de ferro, contam a quem passa a vida, a história, o património de um povo e de uma região que tem na lezíria ribatejana a sua consagração. Numa curta visita, a quem faz do azulejo vida há mais de 40 anos, conhecemos António Trindade. Desde touros, a cavalos, a campinos, o artesão que conhecemos já pintou de tudo um pouco.


 


Cai a noite, e com ela ouve-se o som daquela que é considerada por muitos uma das danças mais típicas do país. Diz-se que nasceu na Galiza, mas é no Ribatejo que o Fandango da Lezíria tem a sua máxima expressão. Dois homens, um despique…. Uma luta que chama a atenção da mulher que mostra o trajar, a vaidade e a coragem do homem bravo do Ribatejo.


 


Atravessando a ponte que corre sobre o Tejo, e que separa Santarém de Almeirim, encontramos do lado de lá uma terra de surpresas. Um final de tarde deixa-nos encantar pelo pôr-do-sol, junto à praça de touros de onde se sente já o cheiro de uma das “marcas gastronómicas” mais famosas do país. Na cozinha é Hélia Costa quem, diariamente, dá vida à famosa Sopa da Pedra.


 


Reza a lenda que um frade que andava ao peditório chegou à casa de um lavrador e, descontente por não lhe terem dado nada, pegou numa pedra e perguntou se poderia cozinhar um “caldinho de pedra”. O resto é história. O conto tradicional português recolhido por Teófilo Braga. Mas a história deste frade burlão tem andado de mãos dadas com a história da família onde há mais de 40 anos se serve a conhecida Sopa da Pedra.  


Ao virar da esquina quase que passava despercebida a pequena oficina de Simão Monsanto, onde até aos dias de hoje se continua a fabricar as típicas botas ribatejanas, outrora calçadas pelos homens da lezíria que guardam o gado e que nos anos 80 foi sinónimo de moda entre as senhoras da região.


 


De regresso a Lisboa deixamo-nos levar pelos extensos corredores verdes que a par da típica lezíria ribatejana dão corpo e forma às terras do Cartaxo. Falar de Ribatejo implica não esquecer a sua história vitivinícola. Na mesma obra Garrett refere-se ao vinho do Cartaxo com a alegoria: “o que é um inglês sem Porto, Madeira ou Cartaxo”. Apesar das exportações não serem ainda o mais representativo na produção deste néctar dos deuses ribatejano, certo é que os vinhos do Cartaxo têm ao longo da história ganho notoriedade e abandonado a fama antiga de “vinho carrascão”. Uma visita à Adega Cooperativa do Cartaxo, que há mais de 50 anos produz vinho da região; às vinhas, que lhe dão a cor, o corpo e o aroma e ao Museu Rural e do Vinho, que nos transporta para os tempos em que o Cartaxo se afirmava como produtor para a região de Lisboa e para as ex-colónias.


 


 


Para além do património cultural, no Ribatejo estão algumas indústrias que usam o que de melhor as terras da lezíria têm para oferecer. Em Benavente descobrimos o tomate que dá cor à Guloso e os arrozais explorados pela Cigala.


Mais a cima descobrimos que, afinal, Torres Novas não é apenas o nome da cidade. Sob o olhar atento do Rio Almonda e aninhada nas suas margens, nasceu há 160 anos a Fábrica de Fiação de Torres Novas que diariamente dá vida a atoalhados que de Portugal partem para vários países do mundo.


 


Assim, terminámos uma viagem ás origens, à descoberta de um povo. Na sua coragem, na sua vaidade, na sua altivez. Gentes que fazem da ligação á terra a sua marca; da história, a sua força e da cultura o seu elixir. Ribatejo, no coração de Portugal, deixa saudades, à espera da próxima visita.    

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