28 de outubro de 2008

Opiniões que Marcam

Trust é confiança em inglês. E é também um complexo instituto jurídico anglo-saxónico, mediante o qual uma entidade, o trustee, é titular do património afecto ao trust, tendo como dever a sua aplicação diligente em benefício de outra pessoa.


 


Nestes dias de turbilhão financeiro, confiança tem sido a palavra mais ouvida mas o medo tem sido o sentimento mais generalizado. Medo sentido pelos depositantes, em relação à segurança do dinheiro que entregaram a instuituições bancárias. Medo dos bancos emprestarem uns aos outros. Medo dos políticos e dos reguladores de não encontrarem as medidas adequadas para evitar a derrocada deste castelo de cartas. Medo dos particulares que os políticos e reguladores não acertem no remédio. Medo sentido pelos políticos e reguladores de que os particulares corram para as caixas, provocando ainda maior escassez de liquidez. Medo dos banqueiros reunidos nos seus gabinetes de crise de que os seus balanços tenham activos tóxicos.


 


O pior é que o medo nos mercados financeiros, que se sustentam na confiança,  é mais do que um sentimento passageiro de resposta a uma ameaça. Pode gerar recessões duradouras, com o contágio da crise financeira à economia real, como nos ensinaram outras crise no passsado. Por isso, políticos e reguladores foram lestos em apelos à serenidade e em demonstrações de confiança na sobrevivência do sistema bancário.


 


Muito se tem teorizado nestes dias acerca do fim do capitalismo, o fim dos “tempos”, com sinais apocalípticos como a derrocada de veneráveis instituições como o Lehman Brothers, que sobrevivera à Grande Depressão e ao crash de 1987. Se cada crise encerra uma oportunidade, o que esta crise vem trazer  é, talvez, o impulso para se repensar este tipo capitalismo.


 


O que virá a seguir será mais capitalismo, mas um sistema mais regulado e fiscalizado, em que as imprudências sejam punidas com maior severidade, o que desincentivará apostas arriscadas em activos que mesmo no sistema bancário poucos  conseguem compreender. Entraremos numa era de menores rendimentos dos nossos investimentos, é certo, mas mais regulada e mais prudente.


 


Os arautos do capitalismo que aceitam agora de bom grado a mão interventora do Estado, temporária e subsidiariamente, é certo, dificilmente terão a mesma legitimidade para apregoar cada vez menor intervenção pública. O financeiro e filantropo George Soros, ex-especulador que há uma década anda a prognosticar a derrocada do capitalismo global, frisa que “os governos devem reconhecer que os mercados não se corrigem a si mesmos”.


 


Paul Krugman, Nobel da Economia 2008, avisa no El País que o mundo precisa de “uma contrareforma contra o absolutimso do mercado livre” e defende a despesa pública como o principal instrumento para suavizar as consequências de uma recessão de que já ninguém duvida. Não é altura de pensar em défice, a não ser no  de confinaça, que pode mostrar-se ainda difícil de restabelecer.

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelasPor Isabel Canha, directora da Exame

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