27 de outubro de 2008

Opiniões que Marcam

Se alguém se der ao trabalho de ver um bloco publicitário inteiro, dos grandes – como eu fiz ontem à noite – sem sair do lugar nem fazer zapping, vai chegar à mesma conclusão que eu: é uma seca.


 


Então com o telemóvel a tocar, mais de cem canais de TV para ver, o msn e o youtube e o e-mail e os chats, por que razão haveria alguém de se plantar a ver um bloco publicitário? Só por obrigação.


 


É que se fosse uma coisa rápida, compreendia-se. Mas são intermináveis minutos e minutos de uma sucessão alucinante de coisas muito rápidas.


 


Muita estimulação visual, muita cor, muita música, será tudo muito alegre, mas é uma canseira. Dez segundos de uma música clássica e pronto, passa a outra, rock, e a outra, pimba, e tudo isto acompanhado de imagens, respectivamente, de carros a deslizar em estradas reluzentes, de miúdas de bikini a beber sumos cor de rosa num país onde é sempre Verão, de uma máquina de lavar roupa que parece ser o orgulho da família, e por aí fora.


 


Podia ter uma cadência, um ritmo a que nos habituássemos, mas não. São 10 segundos ”põe mais alto»”e depois 30 segundos “põe mais baixo” e depois 5 segundos de um pesado silêncio. E isto numa ordem aleatória e imprevisível. Acompanhar este ritmo é exigir muito a um ser humano.


 


Como é que uma indústria supostamente madura como a publicidade vai neste engodo? Será que ainda há alguém que ache que quanto mais frases conseguir proferir nos 20”ou 30” a que tem direito mais o consumidor vai memorizar?


 


Quanto mais estímulos visuais e quanto mais palavras se conseguir compactar no menor período de tempo possível, melhor?


 


 Isto é ingenuidade.


 


A publicidade, de um modo geral, não está a saber adaptar-se à nova concorrência. Não está a reposicionar-se face ao novo paradigma, aos novos meios e solicitações, a um consumidor que verdadeiramente tem mais que fazer.  


 


A publicidade devia ser agradável de ver, devia divertir-nos ou emocionar-nos. É por isso que o Grande Prémio de Cannes, o filme Gorilla, para a Cadbury, teve o impacto que teve. Lembra-me quando era pequena e pedia à minha tia que contasse de novo a estória, queria ouvir outra vez. E era sempre surpreendente. Este filme tem esta capacidade. Vemo-lo atentamente e temos vontade de o rever e mostrar aos amigos.


 


Deixo aqui uma sugestão: os publicitários e os marketeers deviam perguntar-se sempre perante um script ou um storyboard “por que razão as pessoas quereriam ver este anúncio?”

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