6 de outubro de 2008

Opiniões que Marcam

 


Viseu é terra fértil em grandes marcas nacionais. Nas artes criou Grão Vasco, nas maratonas Carlos Lopes, mas a sua principal marca talvez seja o vinho e em particular, uma casta de nome Touriga Nacional.


 


Diz a lenda que deus Baco, quando por ali passou e pediu a um casal de lusitanos que lhe dessem de beber, estes trouxeram-lhe água.


“Água?” – perguntou Baco surpreendido – “Não tens vinho?”



“Não, nós não sabemos o que isso é. Queres comer?” – disse o lusitano, que voltou com uma perna de cabrito montanhês.


 


Comovido pela hospitalidade do casal, ao despedir-se Baco disse-lhes: “Um dia ainda hão-de saber o que é o vinho”.



Alguns anos mais tarde, foram entregar a casa desses lusitanos uns pés de videira que traziam escrito: “Baco oferece reconhecido”.


 


Terão os vinhos de Portugal nascido no Dão, de uma dádiva de Baco? E se assim foi, talvez essa dádiva tenha sido plantada na aldeia de Tourigo, numa  casa que já foi uma comunidade monástica, e aí tenha sido baptizada de Touriga. 


 


O certo é que a Touriga Nacional é hoje considerada a rainha das castas tintas portuguesas e, na minha opinião, aquela que pode dar estrutura internacional à marca dos vinhos portugueses. 


 


A Touriga Nacional é uma marca activa há já alguns séculos. Foi a casta que prevaleceu na região do Dão até ao séc. XIX e que foi muito relevante no Douro antes da invasão da filoxera. Depois passou de casta principal a casta maldita – produzia muita parra e pouca uva e assim ficou conhecida. Mas como a qualidade nos vinhos sempre foi determinante, hoje é a casta mais elogiada em Portugal.



É uma marca uva de vinhos pretos, retintos e intensos, que apelam à visão como forma de afirmação dizendo-se, por isso, que foi introduzida no Douro para dar cor aos vinhos, quando em Inglaterra tinham passado de moda os vinhos descorados e começavam a ser preferidos os vinhos mais carregados de cor.


 


Para os enólogos estrangeiros quando se fala em Portugal, de entre mais de 200 castas autocones, fala-se de uma casta em particular, de um aroma intenso e vibrante de violeta.


 


A Touriga está para Portugal como a Malbec para a Argentina; a Carmenere  para o Chile; a Nebbiolo para Itália; ou como as castas Pinot Noir e Chardonnay para a região francesa Borgonha ou as Merlot e Cabernet Sauvignon para Bordeaux.


 


Criada no Dão e educada no Douro, a Touriga Nacional é hoje uma casta adulta, supra-regional e que tem despertado interesse um pouco por todo o mundo, constituindo uma oportunidade única para afirmar, internacionalmente, a marca dos vinhos portugueses.  



O consumo de vinho é, cada vez mais, um sinónimo de modernidade, por isso, nada melhor que os 12 graus negativos do Ice lounge do Palácio de Gelo, em Viseu, para saborear e reforçar a ideia de que é necessário romper com os preconceitos, quebrando o gelo que tantas vezes nos impede de investir nas nossas marcas nacionais, levando para o futuro as riquezas do nosso passado.


 


A  Touriga Nacional é uma das grandes marcas do nosso país, e pela excelente reputação que tem conquistado um pouco por todo o mundo, pode bem ser o cavalo de Tróia que precisamos para posicionar a marca dos nossos vinhos nos mercados internacionais.


 


Mas neste, como em muitos outros casos, não bastam as dádivas de outros “Bacos”, nem é suficiente a qualidade intrínseca dos produtos. É urgente modernizar, divulgar e, sobretudo, concertar uma estratégia nacional de demarcação e protecção desta nossa marca.


 


Os grandes empreendimentos do futuro fazem-se de pequenos gestos no presente, pelo que apenas um copo da nossa Touriga de Portugal, possa ser o quanto baste para descongelarmos todo o potencial das nossas marcas.


 


Quebrar o gelo das marcas de Portugal é, certamente, um dos mais urgentes desafios da nossa economia.

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