31 de julho de 2008

Opiniões que Marcam

 Concentrar o Algarve em apenas uma marca requer um exercício que nos deverá levar “allém” do óbvio. O Algarve não é só litoral, é também barrocal e um pouco de serra. Por isso, fui até ao Cerro de São Miguel, no concelho de Olhão, ao encontro da história de um dos elementos que marcam toda esta região: os figos do Algarve.



 



Os figos foram, desde sempre, um dos produtos agrícolas mais generalizados e apreciados do Algarve. As figueiras que resistem, sem rega, ao calor dos verões prolongados, fazem, junto com as amendoeiras e as alfarrobeiras, a paisagem do Algarve e, com o seu cheiro doce, compõem as notas do incomparável perfume desta Terra.


 


O Figo é do Algarve e da Humanidade. Nascem da planta feminina, comem-se maduros ou secam-se e são fáceis de conservar durante meses; talvez por isso sejam um dos mais antigos, e sem dúvida, um dos primeiros frutos a serem secos para alimento.



 


O Figo é o mais sagrado dos frutos. O mais mencionado na Bíblia, tendo a figueira fornecido a Adão  a primeira vestimenta do Homem.


 


Para os judeus, é um dos sete alimentos que crescem na Terra Prometida: trigo, cevada, uva, figo, romã, azeitona e tâmara.


 


Para os maometanos, porque Maomé jurou pelo figo e pela oliva, na Surata [Suratas são capítulos dentro do corão] 95 do Corão, intitulada “O Figo”.


 


Para os budistas, a figueira Ficus religiosa é sagrada, pois, foi debaixo de uma delas, que Buda Sidarta Gautama alcançou a sua revelação religiosa.


 


Foi o fruto predilecto de Cleópatra, foi usado como primeira medalha olímpica e chegou mesmo a ser o principal alimento dos atletas


 


O Figo é nutritivo e curativo. Activa as faculdades do Homem com as suas inúmeras virtudes, é doce e refrescante, rico em potássio, vitaminas e sais minerais, altamente energético e de bom valor biológico. Contem todos os aminoácidos essenciais, sendo usado no tratamento de inúmeras doenças, nomeadamente, no combate ao cancro do cólon.


 


Mas o Figo é, sobretudo, um restabelecedor de energias, que aumenta a força dos jovens e preserva o aspecto e a vitalidade dos mais velhos.


 


No Algarve, o figo segue o ciclo de Verão – a partir de Junho, o figo maduro; em Setembro, o figo murcho. Depois de secos, os figos são guardados em cestos de vime e empreita, perfumados com funcho.


 


Existem inúmeros produtos de Figo : licores, cremes, óleos, perfumes, mas é na doçaria – influenciada pela da passagem árabe pelo território de Portugal e pelas tradições dos conventos –  que o figo se revela.


 


Os Figos dão origem a inúmeros : Doce de Figo, Estrelas; Figos Cheios (Olhão) [recheados com pedaços de amêndoa, açúcar e chocolate]; Queijos de Figo [figo esmagado juntamente com amêndoa moída, chocolate, açúcar, canela, erva-doce], Doces em forma de peixes/galinhas/livros/…; Morgados de Figo, Croquetes de Figo.


 


O foie gras [uma das maiores iguarias da cozinha francesa -significa – “fígado gordo”]  deriva do nome “iecur ficatum”, que em Latim significa literalmente “fígado de figueira”.


 


Acredita-se que, já no tempo do Egipto Antigo, os gansos eram alimentados com figos de modo a aumentar os seus fígados, daí o termo “iecur ficatum”. O termo “ficatum” tornou-se a raiz das palavras fígado em português e foie em francês.


 


Pois os nossos deliciosos bolos de Figo são simbolicamente o nosso Foie-garve, a nossa preciosa iguaria , o “fígado gordo” do nosso Algarve.


 


É urgente despertar a consciência nacional para a qualidade excepcional das nossas riquezas e para a necessidade de colocar nelas energia criativa e investimento: é preciso modernizá-las, promovê-las, valorizá-las, torná-las únicas, fazê-las estrelas do mundo das marcas.


 


Só deste seremos capazes de tirar o melhor partido de todos os nossos “figos”, sendo  capazes de transformar as economias do passado, numa nova geração de marcas, tão exclusivas como são, as geniais iguarias de Portugal.

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