Foram literalmente longos dias de trabalho. Quando na reunião de alinhamento ficou decidido que a sexta edição do Imagens de Marca Regiões iria mostrar aquela que é uma das marcas mais emblemáticas da capital – as Festas de Lisboa – creio que nenhum de nós imaginava a riqueza que iríamos encontrar.
Das romarias em torno de Santo António aos milhares de pessoas que participam nas marchas e nos arraiais, dizia-me a nossa editora que a génese desta marca se encontra na alma e paixão do povo.
E por onde começar?
Santo António foi indiscutivelmente o ponto de partida. A sua igreja, situada num dos bairros históricos mais conhecidos da cidade, Alfama, dispensava apresentações. Mas a figura e os feitos de Fernando de Bulhões guiou-nos pela sua história, pelas muitas esquinas e becos onde a arte popular fez questão de eternizar a imagem do frei franciscano que conquistou o título de santo padroeiro da cidade. Um dos seus símbolos – o pão – levou-nos, a partir das 6h00 da manhã, a acompanhar o processo de produção e de embalamento em Caneças. A sua fama de milagreiro e casamenteiro fez-nos testemunhar os milhares de pessoas que, a partir das 7h00 da manhã no dia 13 de Junho, rumam à Igreja de Santo António e as dezenas de casais que, desde a década de 50, assumem um compromisso para a vida sob a protecção do patrono.
As marchas que, desde os anos 30, desfilam pela cidade são talvez um dos eventos mais mediáticos da capital. Um evento que ganha forma pela vontade de gente anónima que, ao longo de um ano, trabalha discretamente as tradições da cidade.
À noite, invadimos os bairros históricos e silenciosamente assistimos aos ensaios dos jovens marchantes que herdaram dos seus familiares a alma bairrista. Uma experiência de marca que merece ser vivida. Nos ateliers de costura sentimos o entusiasmo de quem quer fazer brilhar as marchas na avenida.
Ao nascer do dia acompanhámos a D. Celeste na montagem da banca de manjericos e a D. Aida, uma simpática septuagenária que partilhou connosco as muitas memórias de quem há 40 anos organiza arraiais à porta de casa. E precisamente às primeiras horas do dia 12 de Junho, participámos na azáfama dos comerciantes e particulares que se deslocam ao MARL para comprar as tradicionais sardinhas. Pela noite dentro vivenciámos arraiais, respirámos o cheiro da cidade e testemunhámos a euforia dos milhares de pessoas que dão vida às Festas de Lisboa.
As melodias e letras que nesta época do ano soam na Avenida transportaram-nos para o século XIX, a época de onde desenterrámos a história de Severa. A mulher que marcou a história da Mouraria – o bairro onde morou – e do fado. Seguindo os seus passos damos-lhe a conhecer, neste Imagens de Marca Regiões, um pouco do quotidiano alfacinha que tem inspirado poetas, escritores e fadistas e que, a partir dos anos 80, contribui para a afirmação do fado nos circuitos internacionais da World Music como um género identitário da cidade e do país….
Obrigada, Lisboa, por seres tão única.
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