“O Brasil é (e será sempre) o país do futuro” é a frase celebrizada pelo escritor austríaco, de origem judaica, Stefan Zweig proferida pouco antes de falecer em Petrópolis, Rio de Janeiro, decorria a Segunda Guerra Mundial. O pensamento encerra tanto de esperança e de fé, como de carga pejorativa do país adiado, da grande reserva de riqueza que, algum dia servirá a todos, dia esse que sempre tarda em chegar.
A enorme diversidade de influências culturais, a extensão em área, e a incalculável riqueza natural, fazem do Brasil uma imensidão em que cabe tudo. De oportunidades, de liberdades, de democracia, faz jus ao pensamento do Mestre Agostinho da Silva ao afirmar que “brasileiro é português à solta”. Mas também é latino, desenrascado, remediado, atamancado. É, afinal, a versão mais jovem da matriz cultural da Europa meridional, que trouxe novos mundos ao índio, pontuada por um olho azul, mais frio e pragmático, e por uma significativa parte da população (alguma, ainda estigmatizada) que recorda as histórias de antepassados escravos de origem africana que receberam a carta de alforria.
É o país de posses a que falta tempo, porque não basta despejar um camião de dinheiro sobre remediados e fazê-los afluentes. A grandeza desta terra e destas gentes vai muito para além de um mandato político, de uma corrente ideológica ou de um expediente palaciano.
Dos BRIC, é o que mais se aproxima da matriz cultural do Ocidente. Não é expectável a existência de manifestações de rua na Rússia ou na China, e as particularidades culturais da União Indiana definham a possibilidade de fazer florescer uma classe média, como a conhecemos no conceito ocidental.
A «Manif» é um importante escape do desenvolvimento sócio-cultural. A tentativa de infiltração de marginais nos movimentos populares rapidamente foi abafada pelo cerrar fileiras da «geração Lula». Bem retratada por José Luiz Datena, sempre polémico apresentador de TV, da cadeia Band, no seu “show” Brasil Alerta. Uma espécie de Grilo Falante do povo, mas que literalmente “bota a boca no trombone”. Sem pudor, toma partido e apela ao Brasil da mudança e da esperança, fazendo emergir a jovem classe esclarecida que procura fazer da fé uma certeza. Segundo um estudo de mercado («pesquisa») realizado pelo IBOPE, 43 por cento dos manifestantes têm menos de 24 anos, e 49 por cento declaram pertencer a núcleos familiares com rendimento médio mensal superior a cinco salários mínimos. Reivindicam melhoria na rede de transportes públicos, abrindo esse pretexto para maiores desígnios: sustentabilidade e consolidação do que conquistaram com a «ousadia Lula».
A chegada de 40 milhões a uma classe de consumo trouxe esperança. Dinamizou uma economia voltada para dentro das suas fronteiras. Segundo a Organização Mundial do Comércio, o Brasil é o décimo país mais proteccionista do Mundo, sendo o campeão quando considerado o restrito grupo dos 20 países mais industrializados (G20). Tal denota que o Brasil é dominado por corporações industriais e agrícolas fortemente influentes, o que o torna de costas voltadas à competição global. Uma economia fechada não tem estímulos para se tornar mais eficiente e competitiva. E isso não é sustentável. No passado dia 11, tive oportunidade de verificar, com os meus próprios olhos o que é uma economia ineficiente. Ao largo do porto marítimo de Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro, permaneciam 17 navios cargueiros à espera de acostagem para carregar ferro. Com um tempo médio de espera de 48 horas para acostar e carregar no «pier» de minério do porto, rapidamente se fica com a noção de «economia parada». Para não falar das dores de cabeça do porto de Santos, responsável por cerca de um quarto das trocas comerciais com o exterior, onde em Março navios chegaram a demorar mais de 18 dias para carregar cereais. Comentava-se um episódio com uma empresa chinesa que cancelou uma transacção comercial de 600 mil toneladas de soja após ter desesperado com os tempos de espera.
Este é um «cheirinho» da dissonância cognitiva que graça nos neurónios de uma classe brasileira mais esclarecida. Afinal, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas sobrepõem-se à urgência de um forte plano de infra-estruturas que tornem a economia mais pujante. O Brasil bem-parecido internacionalmente adia os investimentos na saúde, na rede viária, nos transportes colectivos e na segurança interna. O Brasil da remodelação bilionária do Maracanã faz fraco o forte torcedor do tão amado futebol.
Os brasileiros têm tudo para acreditar num Brasil que dá. Têm todos os motivos para materializar o verde esperança que dá cor à sua original bandeira.
O futuro é resultado de uma vontade colectiva. Falta percorrer o caminho mais difícil. O do lado imaterial, da economia sustentável. Quando emergir a coragem de enterrar a ganância do passado, o futuro é tão generoso, que “tem Brasil pra todo o mundo”.
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