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Na ilha terceira, no grupo central do nosso encanto arquipélago dos Açores, há um Portugal Genial que insiste em manter quase em segredo, uma das maiores e mais importantes marcas da alma criativa de Portugal.
Na Terceira o Carnaval não são 3, são 4 dias de sessões continuas de representações e comida em abundância. Não é o samba dos outros são dança de espada, de pandeiro, são bailinhos porventura inspirados nos teatros de naus. São tragédias e comédias musicadas e rimadas, burlescas e satíricas. Um misto de inspirações vicentinas e tradições ultramarinas. São teatros populares de cariz rural, complexidade emocional e alma multinacional, como quase todas as marcas de Portugal.
Saímos para o Mundo e trouxemos o mundo para a nossa imaginação. Importa lembrar que a Terceira foi sempre a nossa base avançada no Atlântico, porto intercontinental de todas as rotas marítimas e de todos os prazeres.
Camões, no canto IX imaginou-a a sua ilha dos amores, a princesa dos Açores e deixou-lhe a missão de ser o reduto nacional do respeito pela diferença, da criatividade no seu sentido mais puro e do respeito pelas artes e pelos artistas.
O Carnaval da Terceira não é uma festa, é um sentimento que se expressa em verso e resulta de uma criatividade endémica.
Todos vivem para o Carnaval, todos se envolvem no Carnaval, mas ninguém manda no Carnaval. Todos sonham com o dia para subir ao palco. Pedreiros, carpinteiros, pintores, polícias, lavradores transformam-se em santos, poetas, músicos, artistas e coristas que depois da festa, muitas vezes sem tirar a maquilhagem voltam ao seu papel principal: homens de unhas postiças a ordenhar vacas, mulheres a dormir sentadas para não estragar os penteados para o dia seguinte.
A Terceira é o mais puro retrato de um Portugal Genial. Uma ilha de tradições liberais contra o poderes absolutistas e o domínio de Espanha que nunca mais se esqueceu dos cornos dos nossos toiros na batalha da Salga, dando origem ao provérbio espanhol “ Bienen con ganado, ganado somos” (Se vierem com os touros, corneados somos!) .
Esta é uma geografia onde a identidade é feita de bravura e de diáspora e gerida pelo povo como se gosta de dizer e de fazer no carnaval. Um exercício de talento e atrevimento onde cada um faz o que quer num caos organizado pelo ritmo da tradição e pela energia da modernidade que insiste em manter esta marca de Portugal bem viva.
A terceira é uma potência criativa de onde já saíram inúmeros talentos como Vitórino Nemésio, Nuno Bettencourt ( guitarrista dos extreme ) ou o seu irmão Luis Bettencourt e a sua sobrinha Maria, o estilista Filipe Oliveira Baptista ( Lacoste), o ceramista/escultor Renato Costa e Silva ou street artista Pantónio.
Mas mais importante ainda que estes talentos notáveis, é a energia criativa de milhares de criativos anónimos que fazem do Carnaval um exemplo de gestão sustentada da cultura popular ao serviço da economia da ilha.
O passado da Terceira foi multicultural, criou uma cultura liberal, artística, festeira, mas as crises geraram isolamento e a ilha foi-se fechando sobre si própria.
O desafio está em libertar o potencial criativo da ilha recolocando-a no quadro geo-estratégico da criatividade intercontinental.
São marcas como esta, que fazem do nosso passado, um enorme ativo para o nosso futuro.
As rotas de hoje são diferentes, mas voltam a passar por este porto de abrigo no meio do atlântico, onde pode renascer, com o poder dos novos tempos, o nosso Portugal Genial.
Quem sabe seja aqui o prometido berço do nosso V Império. O império da imaginação.
Absolutamente fantástico o texto, traduz na integra tudo o que a ilha Terceira tem de melhor. Adoro esta ilha, terra onde nasci e vivo. Parabéns a todos os intervenientes que fizeram este testo, sendo fieis ao que ela já representou e representa agora. Bem hajam. Excelente trabalho .Muito obrigado.
Excelente texto acerca da Ilah Terceira e do seu inigualável Carnaval. Só que a Ilha não se fechou. Os sucessivos giovernos diitos regionais fizeram descer sobre a ilha uma cortina de ferro no que tem sido coadjuvados pelos sucessivos governos centrais.