O amargo doce dos sumos de fruta

4 de setembro de 2017

O amargo doce dos sumos de fruta

Pedro Gouveia Alves, Economista

O cada vez maior esclarecimento dos consumidores relativamente à indústria alimentar está a mudar comportamentos de consumo. Todos nós somos impactados diariamente com a necessidade de optar por um estilo de vida saudável. O verão é propício à adesão a uma alimentação mais leve, acompanhada por fontes de hidratação a que o calor apela. O conhecimento e as fontes de acesso a informação sobre alimentação equilibrada levam a maiores cuidados no momento da escolha. Mas, o que há de novo nesta matéria?

Há o «sugar tax». O imposto sobre as bebidas açucaradas que entrou em vigor com a Lei do Orçamento de Estado para 2017. É que, segundo dados relevados pelo Ministério da Saúde, o consumo de refrigerantes em Portugal rondava os 30 milhões de litros por mês, e esse mesmo consumo terá caído para 10 milhões, ou seja, para um terço.

Os resultados da medida de implementação do «sugar tax» só vêm reforçar as alterações de tendências de consumo de refrigerantes e sumos de frutas. As empresas da indústria estão a braços com um enorme desafio: por um lado, procuram substituir o açúcar por formas alternativas de adoçar as bebidas, mas por outro lado, também os alertas sobre os perigos para a saúde da aplicação de adoçantes não diminuem as dores de cabeça dos especialistas. É que os consumidores estão a voltar às origens: os sumos naturais feitos por si, ou obtidos em áreas dos supermercados concebidas para o efeito; as águas de sabor frutado; as bebidas preparadas em casa.

O «natural» está na moda, e a imunidade a assinaturas de promessa de «natural» por parte das marcas do setor é cada vez maior, sendo a adaptação dessas marcas cada vez mais difícil, sobretudo quando apostam nos segmentos mais jovens para evangelizar os consumidores na sua promessa. É que o segmento «millennials» tem-se revelado esclarecido, muito menos leal a marcas, e com reduzido poder de compra. Portanto, atento ao preço e sobretudo, à adoção racional de comportamentos de compra de bebidas.

A propósito, ouvia este fim de semana, num hipermercado um casal de «millennials» no setor de bebidas, algo revelador da mudança. Ela perguntava a ele: “Queres levar aquele sumo? Está em promoção.”; ele respondia a ela: “Não preciso. Esse, eu sei fazer.”

As marcas que marcam os «baby boomers» e a geração X ainda não se adaptaram às preferências dos mais novos. Acresce que, essas mesmas marcas contrataram os mais novos para os centros de decisão sobre gestão de marcas, com o terrível desafio de fazer crescer as «teimosas» vendas dos seus produtos junto das suas gerações.

Algumas dessas marcas são «lovebrands» de gerações que continuam a consumir os produtos da sua preferência, e que representam uma importantíssima fatia no volume de vendas. Tantas vezes ouvi frases do género: «quem me dera agora um sumol de laranja», ou um «compal de pêssego». Coisas que podem soar a «horrível» para um «millennial» mas que são sabores que marcam gerações.

Afinal, uma «lovebrand» é a que consegue manter uma relação «amorosa» com o seu consumidor, por manter a «chama acesa» e por corresponder aos desafios de cada momento. Por isso, tem o valor que tem.

E se um dia o amor não é correspondido?

Pedro Gouveia Alves, Economista

 

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Por Pedro Gouveia Alves

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