A pressão de pertencer, de estar, de partilhar ou postar, de viver uma vida maior e melhor do que a nossa, induzido pelas redes sociais leva a fenómenos grupais muito fortes. Estaremos, afinal, a ficar todos parecidos?
A necessidade de pertencer foi definida pelo psicólogo americano Maslow. Ele acreditava que as pessoas são seres sociais que têm uma necessidade de pertencer a um grupo, amar os outros, e ser amados. Ele afirmou ainda que, se as pessoas não podiam atender a essa necessidade de pertencer, a sua necessidade de auto-estima não seria capaz de ser satisfeita. Em outras palavras, sem ser aceito como parte do grupo ou por outros, a auto-estima não se desenvolve adequadamente.
O que Maslow não antecipava era o efeito que o mundo virtual, nomeadamente a partilha desenfreada dos momentos de vida pessoal iria provocar, ampliando essa necessidade de pertença alem fronteiras físicas, alem dos grupos de relacionamento físico mais chegados (família e amigos próximos).
Hoje em dia podemos estar do outro lado do mundo e sentir que estamos próximos, podemos estar com Oceanos pelo meio e no entanto partilhar momentos íntimos, podemos estar meses e anos sem ver as pessoas sem enfraquecer amizades e sentimentos, conseguimos acima de tudo acompanhar os “modismos” e as tendências, conseguimos saber “o que esta a dar” e quem dita as tendências.
Assim hoje em dia conseguimos acompanhar grandes eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, Eleições em Países longínquos, grandes concertos, pequenos concertos, os restaurantes que abriram e os que fecharam, como se de facto estivéssemos presentes fisicamente.
Se antes existiam eventos na nossa cidade que moviam os grupos, que ditavam as modas, hoje a escala é quase global, o que torna quase impossível conseguir estar, ser, pertencer e vivenciar tudo o que gostaríamos, gerando novos tipos de frustração, alguma tristeza e quem sabe novos tipos de relacionamentos.
Acompanhando as redes sociais dos últimos meses ficamos com a perceção que “todos” foram às Olimpíadas da Cidade Maravilhosa, que “todos” estão nestes dias no Web Summit de Lisboa e claro, que “todos” já foram visitar o Maat de Lisboa e o Museu do Amanha no Rio. Ficamos com a certeza da espetacularidade das férias de verão de “todos”, das praias maravilhosas que “todos” estiveram e das refeições magnificas que “todos” degustaram. E é bom que iniciemos a preparação para as fantásticas semanas de Neve que por ai vem, porque naturalmente “todos” irão.
“No outro dia aqui em casa ficamos sem internet por umas longas horas, o que nos levou a conviver em família. Eles até são pessoas simpáticas…”
“Life is what happens between Wi-Fi signals.” – Anonymous.
Life is what you make of it! Porque para além da necessidade de pertença também temos necessidade de individualidade. A questão, no caso de não ter ido a esses eventos, é: o que fiz eu nesse tempo?
Concordo com quase tudo. Mas acrescentaria que, se por um lado há esta partilha de informação sobre ” grandes eventos como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, Eleições em Países longínquos, grandes concertos, pequenos concertos, os restaurantes que abriram e os que fecharam…” , por outro lado, as redes também permitem a partilha sobre outros eventos, que não suscitam desejo de pertença e até parecem promover a indiferença. Dada a possibilidade de serem presenciados em tempo real, quase como se fossem filmes ou encenações, estes outros eventos tornam o horror e a guerra numa banalidade para uma sociedade que vive mais no virtual que no real. Passado o momento de consternação inicial, todos os eventos se apagam até ao horror seguinte ( veja-se o caso do pequeno Aylan) .
Vive-se no desejo de pertencer e de parecer que se está em todo o lado, e fica-se triste, frustrado por não se conseguir acompanhar tudo. Mas não se fica triste nem frustrado por não olhar e pensar sobre a realidade como ela é sobre o próprio grau de pertença a essa realidade. E não deixa de ser um pouco assustador, quando o desejo de pertença se transforma em alienação.