- Já começou? Eu ainda nem fiz a lista…
- Não sei o que comprar ao Fulano, mas o Cicrano e o Beltrano já estão despachados.
- Este ano vou correr todos os meus amigos a livros.
Há uns anos, por esta altura, a vida na cidade tornava-se caótica com o frenesim das compras de Natal que tumultuava tudo e todos. Trânsito parado, estacionamentos cheios, centros comerciais abarrotados, embrulhos, confusão, ansiedade geral. Não havia ainda o túnel do Marquês nem o metro do Porto, mas o dinheiro circulava que era uma beleza.
É um fato que os meus filhos, entretanto, cresceram (o mais infantil lá em casa sou eu) e só isso já faz com que a quadra perca alguma daquela magia. Mas está à vista de todos que o Pai Natal não está na sua melhor forma, provavelmente já teve que reestruturar a sua equipa de gnomos ajudantes e poderá não ter capacidade de produção para presentear todas as crianças, por melhor que se tenham portado.
É mau? É. E como já dizia a canção, “sei que nada será como antes, amanhã”.
O que estamos a fazer, mais forçosamente ou menos, é questionar algumas convenções adquiridas ao longo dos anos (mais nos últimos 15, talvez) em detrimento de uma nova realidade. O Natal é apenas um exemplo.
Quando somos levados a olhar de forma crítica para o convencional descobrimos que nem sempre as coisas fazem sentido.
Há muitos e muitos Natais atrás, na altura em que as fechaduras dos carros eram engenhocas mecânicas, justificava-se que os pinos para trancar/destrancar fossem localizados no canto acima das maçanetas. Foram preciso muitos anos e alguma lógica de restrição de custos para que se equacionasse que afinal, com os dispositivos eletrónicos poderiam ser poupados muitos quilómetros de cabos se as luzes de segurança fossem instaladas no canto oposto da porta e não onde “sempre foi”.
Recentemente tive o surpreendente prazer de ouvir a frase “uma marca é um meio e não um fim” dita convictamente por um cliente. Mais do que correta, a afirmação sugere a consciência de que para além de tudo o que possamos fazer pelo sucesso de uma marca “do lado de cá” enquanto designers, brand voicers, estrategas e afins, existe uma outra dimensão que dependerá da qualidade e da boa prestação de quem está “do lado de lá”, oferecendo o melhor serviço ou entregando o melhor produto.
Essa postura não convencional surge numa altura em que questionamos a rentabilização dos processos, procurando agir não como “sempre foi”, mas de uma forma muito mais produtiva, com claros benefícios para todos os envolvidos. Alguns clientes já se deram conta de que não podem apenas lançar um briefing e esperar que num passe de mágica surjam as soluções criativas; assim como algumas agências também já acordaram para o fato de que não podem ignorar os inputs dos clientes para apresentarem ideias tão mirabolantes quanto ineficazes.
A nova realidade pressupõe estarmos mais próximos, agindo de forma integrada para que consigamos atingir melhores objetivos.
O fato de estarmos a reduzir gradativamente as nossas listas de Natal não quer dizer que não devamos ao mesmo tempo procurar alternativas para comemorar a data. Lamento que o comércio sofra com esta austera realidade, mas o fato é que o Natal menos rico pode ser na mesma um momento de aproximação entre as pessoas.
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