Qual é o ano zero de uma marca? É possível retirar a infância a uma grande empresa? Acredito que não. A história do Licor Beirão não pode ser contada sem partilhar a história do seu fundador, José Carranca Redondo, que este ano, se fosse vivo, faria 100 anos. Este foi o mote de mais um I’M a Brand, com a edição de um livro sobre a história desta marca extraordinária, que eu tive o privilégio de editar na Have a Nice Day, em parceria com o Imagens de Marca.
Olhando para trás, e retomando a metáfora da infância colada ao destino de uma marca, não tenho dúvidas de que o Licor Beirão teve as suas dores de crescimento, arranhões e esfoladelas, quedas e encontrões, mas sobreviveu – e com uma mensagem fortíssima: é preciso sonhar, acreditar numa forma diferente de fazer negócio, ser genuíno e arrojado.
A vida resume-se à paixão que temos por ela. A história do Licor Beirão é a história de uma família apaixonada pelo seu produto e as suas características únicas. Claro que isto é um negócio, e que se está a vender um produto. Mas, mais do que isso, foi preciso estabelecer uma comunicação entre as pessoas. Uma ligação afetiva que perdura no tempo.
José Carranca Redondo era um lutador e um otimista inveterado. Nesse sentido, era bem diferente do português típico, aquele que adora voltar a descrever cada desgraça, coleciona furos, hotéis sem água quente, restaurantes caros e maus, estradas sem saída. Tanto azar desafia as leis das probabilidades.
Carranca Redondo, pelo contrário, acreditava que a vida se construía à força de rasgão. O homem sobre quem se diz ter sido o pai do marketing em Portugal, tinha mesmo de ter algo de guerrilheiro. O seu credo de excelência martelava subliminarmente no seu cérebro todos os dias e não o deixava ceder às imaginações do medo.
Esta é apenas uma das componentes do livro sobre o Licor Beirão que nos preparamos para lançar – e com muito orgulho! Quando as marcas decidem fazer um livro ou um documentário sobre a sua história, optam por conservar de forma ordenada recordações até aí vagas da sua “juventude”, fazendo-as reviver por revoadas deslumbrantes como se fossem do presente. As grandes marcas precisam de repartir com dignidade, com grandeza, com um desejo incontido de viver e partilhar, as suas memórias, muitas delas que ficaram sem dono com o passar do tempo. Este é o maior desafio da memória empresarial: não condenar as instituições ao esquecimento.
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