Há não muito tempo atrás, antes de alguém estar seguro de ter vencido umas eleições onde todo o poder politico escorregou, falou-se muito, ou se não muito um bocado, sobre os deslizes da calçada portuguesa. Vamos lá, atire a primeira pedra quem nunca resvalou um pézito nesses típicos passeios, quem nunca deu uma deslizadinha que seja, quem nunca arregalou os olhos de susto num passo de dança compulsório. Basta ter calçados uns sapatos com a sola mais lisa, estar o tempo um pouco mais para o húmido, ou dar um passo mais ligeiro e… vupt!
O meu actual trajecto para o trabalho impõe-me o estado de alerta laranja uma vez que para concluir ileso o percurso Cais do Sodré-Praça Luís de Camões, e vice e versa, é-me exigido foco, determinação e, claro, alguma dose de sorte para evitar um contacto mais próximo e repentino entre os meus glúteos e as pedras de basalto e calcário.
A questão que se coloca à volta desse que é um dos patrimónios referenciais da nossa cultura, em prática desde o ano do achamento do Brasil e recentemente reinterpretado como QR Code, versa justamente sobre o seu suposto atentado à saúde pública.
Na realidade o que deveria ser debatido antes é o facto desse empedramento das vias pedonais se encontrar em muito mau estado de conservação, sujo e desnivelado. Basta nos deslocarmos à Praça do Município para termos uma ideia do que seriam os nosso passeios se recebessem o mesmo carinho que dão ao piso dos nossos autarcas. Sim, Lisboa ficaria ainda mais bonita do que já é.
Feito o elogio a esta cidade que adoptei (ou terei sido adoptado?), passo a criar o paralelo com as marcas, afinal é para isso que me dão este espaço.
O valor de uma marca é construído pedra a pedra, e o nosso trabalho enquanto mestres-brand-calceteiros é o de fazermos encaixar cada elemento do universo identitário no seu devido lugar, de forma a que o resultado seja tão sólido e coeso que permita aos stakeholders passearem-se sem deslizes ou escorregões. Mas convém frisar que também na calçada das marcas a manutenção é fundamental para evitar a deterioração infligida pelo implacável e imparável tempo. As minhas costas que o digam!
Uma vez que nem sempre será a melhor solução substituir uma marca “usada” por outra “nova”, tendo em conta não apenas todo o património adquirido ao longo dos anos mas também os custos de implementação de uma nova identidade, cabe aos seus gestores , sejam administradores, marketeers, estrategas, designers, etc, terem o bom senso de cuidar da marca que têm, dando-lhe a atenção merecida e, claro, investindo adequada e pertinentemente.
Não basta existir, há que manter. Caso contrário seguramente escorrega-se.
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