Até à semana passada não tínhamos tomado consciência de como a segmentação de conteúdos poderia afetar a nossa vida. Foi preciso os americanos elegerem o homem errado para o cargo mais importante do planeta para constatarmos que a informação que nos chega está cada vez mais censurada.
A história é tão recente que bastam meia dúzia de linhas para a resumir. Até 2010, a busca por informação exigia uma ação por parte dos interessados: comprar um jornal, pesquisar um site, acompanhar um programa de televisão. Desde que temos Facebook, e somos mais de um bilião de utilizadores ativos todos os meses no mundo, que a timeline nos faz chegar as notícias em primeiríssima mão. Quando em 2012, o Facebook repara que é inviável entregar tudo a todos os seguidores das várias páginas ou perfis, o jogo muda. Nesse momento passámos a ditar inconscientemente o que é relevante ou não para nós e basta a nossa atividade muitas vezes irrefletida para condicionar o que vamos ver nos próximos tempos.
E assim tem sido, o nosso Facebook foi assumindo a nossa personalidade e entregando o que queremos ver: quer nos conteúdos quer na publicidade. Cada vez mais somos impactados com publicidade que reflete a nossa condição social, personalidade, navegação, preferências, interesses, rotinas quotidianas, etc. Acabamos por até ditar o fim a amizades digitais e a desamigar amigos que simplesmente já não nos apetecia ver para não sermos incomodados com gostos, opiniões e tomadas e posição que vão contra àquela que é a nossa.
E assim criamos o nosso maravilhoso mundo social, onde nos reservamos o direito de só ver o que admiramos, entendemos, gostamos, e concordamos… Até que, um dia, elegemos o Trump para Presidente dos Estados Unidos da América (ainda me custa escrever esta frase)…
É! O Trump foi eleito porque fomos uns arrogantes e censuramos a informação que nos incomodava e com a qual não concordávamos… Agora estamos de novo a ser arrogantes a culpar o Facebook por tudo isso!
Meus amigos, a culpa é nossa, é de todos nós que perdemos o sentido crítico e especialmente dos jornalistas, que têm o papel de ser neutros, isentos e factuais e que seguiram como uns carneiros num rebanho ordenado o caminho da não informação: aquela que só nos chega para nos satisfazer e agradar.
E que bem que pensávamos viver com a nossa própria censura… Mas, depois, o Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América e nós ficamos sem saber o que censurar…
Joana, excelente artigo.
Muitos ainda não perceberam que o Facebook é um reflexo do que somos – e que nos devolve aquilo que semeamos.
Deixo-lhe um artigo pequeno, que mostra as minhas andanças nas redes sociais e, quiçá, encontrará paradoxos comuns aos que encontro… https://franciscoteixeira.com/2015/08/09/um-punhado-de-coisas-que-aprendi-nas-redes-sociais/