Será compatível o mundo da Web, das Startup’s e do Empreendedorismo com o estigma social e o medo bem português de falhar, errar, não acertar à primeira?
Portugal está a apostar, e bem, no empreendedorismo, no apoio às Startup’s e na enorme capacidade de inovação portuguesa para estimular a economia e gerar emprego no curto prazo.
São hoje comuns as noticias sobre as iniciativas governamentais, associativas e empresariais de apoio às áreas de inovação e tecnologia, ao mundo do e-commerce e todo o desenvolvimento em plataformas digitais, no mundo cada vez mais mobile global.
Orgulhamo-nos todos bastante da capacidade de inovação tecnológica desde cedo demonstrada pelos Portugueses, quer quando aplicada aos sectores mais tradicionais, quer em relação a ideias verdadeiramente novas e disruptivas.
São de saudar todas as iniciativas que estimulem e dinamizem estas áreas, e de aplaudir as recentes conquistas para o palco português de grandes eventos como o WebSummit.
Existe, no entanto, um paradigma que está longe de estar resolvido, a que chamo, de forma simplista, o complexo de “Velhos do Restelo 3.0”.
Desde muito cedo, quando ousávamos entrar em pequenas nozes de madeira, a que de forma carinhosa chamávamos Naus e Caravelas, e cruzávamos Oceanos a descobrir mundo, que existiam grupos de pressão social e comportamental, os denominados “velhos do restelo” que condenavam publicamente tais actos de ousadia, repudiavam qualquer vislumbre de coragem, e ostracizavam com alarde todo e qualquer falhanço ou insucesso.
Estes grupos sociais, alguns com eco na media e nas redes sociais, subsistiram até aos dias de hoje, e fazem do seu quotidiano a maledicência e destruição de atos de coragem, ousadia e bravura.
Sabemos que no mundo das Startup’s, mesmo nos mercados mais maduros, a taxa de sobrevivência é pequena, oscilando entre uma em cada 100 iniciativas, para uma em cada 20 nos mercados mais maduros.
Sabemos ainda que é dos chamados processos de “trial & error” que nascem os conceitos vencedores na economia digital, e que existem já listados e debatidos os erros mais comuns efectuados por empreendedores que levaram ao fecho dos seus projectos. E que esta cultura muito norte-americana de aprendizagem pelo erro, a desdramatização do falhanço empresarial, e o apoio de todo o ecossistema ao recomeço, é um dos pilares mais fortes da energia e dinâmica empresarial de sucesso.
Será que estamos preparados para apoiar no erro, na falha, na queda, na falência, todos os empreendedores que estamos agora incitar lançarem os seus projectos? Será que saberemos apoiar nos sucessivos recomeços? Será que saberemos gerir as expectativas para não ostracizar os muitos que não acertaram à primeira? Ou seremos os “Velhos do Restelo 3.0” e teremos já algumas pedras na mão para sermos os primeiros a atirar?
Precisamos então de conscientizar todo o ecossistema que vai desde os setores do Governo, Banca, Venture Capitals, Business Angels, Investidores mais tradicionais, clientes e fornecedores, media e opinion makers e mesmo colegas e parceiros e famílias que o paradigma geral precisa mudar e que para Portugal vencer nesta nova economia precisa ser mais tolerante, ousado, compreensivo e ter a capacidade de estimular o bom erro, o erro que busca o sucesso, o erro que corrige o passado, o erro que aprende dos anteriores, o erro que leva ao futuro.
Pessoalmente sempre passei às minhas equipas que errar é óptimo sinal, sinal que estamos a inovar, a arriscar, a tentar fazer melhor e não simplesmente a repetir o passado. No entanto também sempre alertei que repetir o mesmo erro já tem outro nome, burrice.
“Failure is only the opportunity to begin again, only this time more wisely.” – Henry Ford
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