Errar é mau mas só para o ego

16 de janeiro de 2013

Errar é mau mas só para o ego

João Geada, King of Lalaland

Wiston Churchill dizia que o sucesso é persistir de falhanço em falhanço, Oscar Wilde dizia que falarem mal de nós é melhor que não falarem de nós, Samuel Becket dizia para falharmos mais porque assim falhamos cada vez melhor, e eu não podia estar mais de acordo com estes grandes mestres do pensamento.

Deu-me para escrever sobre isto porque, mais uma vez vejo gente das marcas em pânico por terem cometido erros e mais uma vez tenho a certeza absoluta que estes erros são coisas boas. Estou a falar dos casos recentes da Samsung e da Sumol e das polémicas despoletadas e amplificadas nas redes sociais.

Não sei exactamente quando é que errar começou a ser considerado pecado, mas imagino que a religião e a revolução industrial tenham alguma coisa a ver com isto. A primeira porque sempre utilizou a falibilidade do homem como o contraponto da divindade. Isto dito de outra forma, significa que os representantes de Deus, as Igrejas e os seus acólitos, não podiam também errar e quando o faziam, e fazem, ocultavam e continuam a tentar ocultar os seus erros.

Já o caso da revolução industrial, terá só a ver com a lógica da produção em série. Imaginem o caos que se instalava numa linha de produção quando um dos elos cometia um erro, comprometendo todo o sistema daí para a frente e as consequentes perdas financeiras que daí poderiam advir. É aliás notório que o próprio sistema educativo, ainda com um desenho próprio desta época e destinado a formar operários, seja pouco complacente e até penalizador com o erro.

Misturadas estas duas possíveis origens de um carácter abominável, temos como resultado que as marcas não gostem do erro. Uma certa arrogância e noção de infalibilidade pelo seu estatuto semi-divino e o terror das perdas financeiras levaram a que assim fosse. Acontece que a humanidade lá vai evoluindo e tornando-se mais esclarecida e como o demonstram as conclusões de homens tão inteligentes e experientes como os referidos, ou outros como o próprio Albert Einstein, sendo o homem imperfeito por natureza, sem erro, pura e simplesmente não há evolução. Não tomamos consciência que estamos a fazer qualquer coisa mal e não fazemos nada para a corrigir, perpetuando o próprio erro e nunca desenvolvendo soluções reais e efectivas.

Veja-se as dificuldades do sistema em sair desta crise, na minha opinião por tentarem fazê-lo usando os mesmos comportamentos e ideias que a provocaram. Veja-se a frustração com que os nossos filhos saem das escolas que castram a sua criatividade e individualidade. Vejam-se as marcas e instituições que insistem em comportar-se como deuses que não são.

A Samsung cometeu um erro, que foi produzir vídeos pouco interessantes com histórias pouco interessantes de gente pouco interessante e perpetuou-o quando retirou os vídeos do ar. Foi uma espécie de declaração pública de que não toleram o erro.

Acontece que as pessoas erram e não gostam de quem também o faz e não admite o que transforma as tentativas frustradas de não errar ou de esconder os erros no pior erro possível. Mas mesmo este erro seria uma coisa boa se servisse para que deixassem de o fazer. A Sumol por exemplo, assumiu o seu pequeno e, na minha opinião, muito divertido erro, e a vida continuou bem disposta e original como sempre.

Há ainda outro aspecto curioso no meio disto tudo que são os danos reais causados nas marcas pelos erros. Já todos ouvimos falar de, pelo menos dezenas de casos de disparates e erros cometidos que vem à luz e são amplificados nas redes sociais, agora digam-me uma marca que tenha tido consequências realmente nefastas. Tanto quanto sei, encontram-se todas de boa saúde, a Ensitel por exemplo, pouco mais de um anos passado sobre o seu ‘escândalo’ no Facebook, está aparentemente no top 10 das marcas de confiança dos portugueses.

Não quero com isto dizer que devemos forçar o erro, devemos é fazer as coisas sem tanto medo de o cometer, porque no fim do dia, a única coisa que sai danificada é o nosso ego, mal formatado por um sistema que nos queria a pensar como ele, e não por nós.

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Comentários (2)

  1. Caro João. a marca SUMOL sobrevive a este e outros disparates. Abraço

    por: Manuel Batista,
  2. Os meus parabéns pelo artigo, não poderia estar mais de acordo.Vivemos numa sociedade que cultiva a perfeição e não tolera o erro. Como nós somos seres que erram,esta atitude tem implicações extremamente nefastas para a saúde mental. Preocupa-me muito, porque tenho um filho ainda pequeno, o que as escolas fazem aos nossos jovens com esta atitude de não ser bom errar.

    por: Álvaro Ferreira Pinto,

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