O pessimismo inato da alma Portuguesa aliada ao formalismo hipócrita dos doutores e engenheiros são claramente os fatores que menos saudades deixam a quem vive fora.
Vivo em São Paulo, Brasil desde o inicio de 2011, depois de viver quase 43 anos em Portugal. Depois dos diversos choques e contrastes iniciais, consigo hoje analisar já com alguma frieza as principais diferenças e pontos positivos e negativos dos choques de culturas e de ambientes.
Amante confesso do meu Pais, defensor acérrimo dos seus costumes e do seu património histórico e cultural, consigo hoje ter uma visão mais critica daquele Portugal que nos faz mais “pequeninos” e que tantas e tantas vezes nos impede de ir mais longe.
Povo capaz das maiores aventuras que este mundo já conheceu, navegando em verdadeiras “cascas de noz” por estes mares afora, descobrindo mundos onde o mundo não existia, e espalhando cultura, tradição e costumes pelos vários continentes, capaz de varias gerações de emigrantes que espalharam profissionalismo, empreendedorismo, garra e empenho nas mais diversas geografias, encontramos hoje em Portugal um povo conformado, triste, pessimista e demasiado agarrado aos pergaminhos de um mundo que já mudou.
Existem alguns sentimentos comuns entre os vários Portugueses que trabalham fora quando vão a Portugal, nomeadamente a questão do pessimismo presente no quotidiano (vai-se andando, cá vamos levando a vida, vamos como Deus manda) a ausência de propensão ao risco e ao desafio, o conformismo e brandos costumes. Mas o que mais sobressai e contrasta com a realidade que encontramos fora de Portugal é o formalismo ainda persistente no uso abusivo e verdadeiramente irritante dos Srs Doutores e dos Srs Engenheiros para qualquer alma que tenha tido a felicidade de terminar uma qualquer licenciatura. Quando conjugamos isto com as barreiras intransponíveis das fieis e devotas Secretarias (hoje mais elegantemente chamadas de Assistentes Pessoais) na defesa intransigente da “agenda” do sotor, as situações aproximam-se do ridículo, quando contrastadas com a realidade mais desempoeirada e real que se encontra em outras culturas.
Persiste ainda em Lisboa a ridícula necessidade de ficar no escritório pelo menos 12 horas (ainda que se percam 2 ou 3 entre refeições e cafezinhos) por questões de aparências e modismos, quando em efectiva produtividade 6 a 7 horas mais focadas fariam bem melhor, salvando tempo de qualidade para dedicar a família, saúde e lazer.
Alguns contrastes que consigo hoje destacar com alguma frieza e que me entristecem:
- a inveja perante o sucesso alheio, a critica velada e a hipocrisia tao típicas da sociedade Portuguesa tornam-se mais evidentes quando se vive fora;
- é muito comum, perante uma sucessão de noticias ou acontecimentos felizes ouvir de um Português um auguro que algo de mal devera estar a chegar, pois tanta felicidade não é comum.
- Costumo muitas vezes ilustrar que o povo Brasileiro se emociona muito e chora com facilidade perante eventos e emoções positivas, momentos felizes, seja em que local e perante que for; Já na adversidade, na desgraça ou azar, reveste-se de uma coragem, de uma fé inabalável e de um otimismo incrível agradecendo cada dia que amanhece com pão na mesa e local para dormir.
- Assistir um noticiário nas televisões Portuguesas é hoje um verdadeiro exercício de tortura, pela duração (pode chegar a uma hora e meia !!!) pela verdadeira irrelevância dos temas e ainda mais pela repetição dos fatos por diferentes repórteres de estúdio e de rua, repetindo as mesmas exatas palavras na ausência de novidades, numa luta absurda de audiências. Já sem comentar o tom verdadeiramente critico, destrutivo e por vezes de escarnio dos repórteres a narrar os acontecimentos. Quem tem uma media como a nossa não precisa de inimigos.
Acredito que com o numero cada vez maior de flutuações de profissionais Portugueses cruzando Oceanos, Continentes e culturas, aliado ao aumento exponencial do Turismo e do numero de estrangeiros que decidem fixar residência em Portugal, a próxima geração já vai sentir mudanças positivas nestes fatores e resgatar dos nossos antepassados valores mais aventureiros, optimistas e corajosos. Precisamos urgentemente de passar a ver o copo meio cheio.
“In optimism, there is magic. In pessimism, there is nothing.“– Abraham-Hicks.
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