Decidi vir tomar o café obrigatório da manhã, ao Chiado.
Azar o meu, o dia está cinzento e bem fresco. Não vai haver Sol e eu estou na esplanada da Brazileira.
Olho o Iphone, dou uma espreitadela no FB e este meu amigo inseparável diz-me que estão 9º, e eu acredito.
Na esplanada não há quase ninguém e na rua do poeta Garrett ainda se vê pouca gente. Também não há mimos nem cantores de rua. Um grupo de escuteiros faz uma venda de rifas e aborda as pessoas quase indiferentes. Ouve-se o 28, o mais famoso eléctrico do mundo, e chega o carrinho das castanhas que se planta na esquina do costume.
Peço o meu café “normal”, é assim que o classifico, e pedem-me por favor, para pagar já! Obedeço, e pago 1,50€.
Estamos em Saldos. Na montra da colorida BENETTON lê-se em grande 50%. Idem na provocadora SISLEY.
Perto das 11 hrs sinto uma necessidade de aquecer e decido deixar para trás a esplanada da Brazileira.
Desço a Garrett e testemunho um fotógrafo a dar uma moeda a um mendigo sentado à porta de uma igreja como que a pedir autorização para a sessão fotográfica a seguir.
Vir ao Chiado é algo especial!
Aqui os sentidos ganham uma invulgar dimensão e o Chiado apresenta-nos um verdadeiro banquete para os sentidos.
É uma experiência sensorial extraordinária, cercada de Romantismo, difícil de escrever num A4 e muito positiva que contrasta com o país real, o tal pessimista e sombrio que muitos portugueses subscrevem.
É esquisito o fenómeno. No Chiado sinto-me mais europeu e mais civilizado.
E isso deve estar relacionado com tudo o que representou e representa ainda no nosso imaginário. Um ponto de encontro de correntes e de opiniões. Um lugar de confluência de poetas, escritores, artistas e políticos frequentado regularmente pela alta sociedade, a burguesia e Maçons.
No Chiado gosto ainda mais do meu país e da minha capital.
Vê-se e sente-se alegria. Há convívio e socializa-se nas ruas e lojas. As pessoas abrem-se e dão- se mais.
E depois vê-se gente muito diferente e original.
Dá-me prazer estar ali sentado e ser um mero observador a assistir a um desfile de verdadeiras personagens, do mais excêntrico ao mais conservador.
Um mundo que ficava muito bem nas páginas do famoso “the sartorialist”.
A cadeira junto à estátua do Pessoa, é um dos spots mais procurados para a fotografia. Dá gosto ver aquele rodopio.
O Chiado é um ponto de encontro verdadeiramente global, mas muito muito humano. Aqui não há stress e as pessoas passeiam e fazem compras com calminha, e são muito bem atendidas.
LX precisa de mais espaços assim, que humanizem a cidade e que nos façam sentir bem.
Confesso que nunca fui um grande admirador de Shoppings.
Percebo nos dias que correm, o conceito subjacente “one stop shop”. Mas eu, cada vez mais, prefiro que os dias não corram. Isso é um dos males que afectam o ritmo em que vivemos e até há quem reclame que os dias deveriam ter 48 horas. Para quê?
O Chiado já teve o seu cinema.
O primeiro de Lisboa, chamava-se Chiado Terrasse e tinha uma fachada da época, bem bonita, tal como todo o edifício. Virou balcão do Banco Fonsecas & Burnay nos anos 70 (agora é da CGD) e também espaço para escritórios, mas acho que está vazio.
O jovem escuteiro que vendia as rifas chamava-se Duarte. Comprei-lhe uma rifa a 1€ e dei-lhe o meu TLM. Fiquei automaticamente habilitado a :
Um tablet PC
Uma máquina fotográfica digital
Uma noite num hotel romântico ?? (perguntei qual e não tive resposta)
Espero que os escuteiros me liguem.
Um Bom Ano de 2013!
Sem pressas… Até porque como dizia a Super Bock nos anos 80 “às vezes, é bom andar devagar”!…
E não me venham dizer que o café no Chiado é caro!
Ir ao Chiado podia ser uma experiência da infelizmente desaparecida “A Vida é Bela”.
MUITO BOM MESMO… de tal modo que amanhã vou lá passear com o Pedro! A descrição é tão vívida que sinto os cheiros que cheiraste, vejo tudo o que os teus olhos viram e fiquei feliz como tu, como passeio ao Chiado, obrigado querido pelos belos momentos!
Grande António! Adoro o Chiado e sbscrevo tudo o que aqui li. Vou lá sempre que posso. Só uma ressalva : acho muito caro 1,50€ por um café,especialmente na Brazileira onde nunca fui bem tratada! Obrigada e Bjssss