“All aboard” é uma excelente expressão para dar o mote a este meu artigo. Recentemente, em conversa com um bom amigo, ele comentava que a maior parte das discussões em torno do potencial económico do mar para o nosso país, estão completamente desfocadas.
Segundo ele, existe um enorme potencial por explorar nos vários desportos náuticos que podemos desenvolver e que, só agora, estamos a dar os primeiros passos com maior mediatismo para o surf, mas que não podemos ficar apenas por aí com a quantidade de marinas e infra-estruturas de apoio disponíveis, já para não falar da excelente localização geoestratégica do nosso país.
Com certeza já perceberam do que é que eu estou a falar. Dentro de dias vamos assistir à chegada a Lisboa da Volvo Ocean Race, uma das provas de topo a nível mundial e que “por acaso” passa por Lisboa.
Este “acaso” resultante da visão bem focada da Associação de Turismo de Lisboa e da Câmara Municipal de Lisboa, trás até nós uma competição que entusiasma os amantes da Vela, e que “arrasta” consigo um potencial económico altíssimo, quer em consumo directo, quer em consumo indirecto, quer ainda em consumo induzido. Estamos a falar de aproximadamente 32 M€ de impacto económico positivo na região de Lisboa, de acordo com o relatório da PWC* relativo à passagem da prova em 2012. No estado em que a nossa economia se encontra, estas oportunidades não podem ser desperdiçadas.
Mas o que mais me interessa aqui partilhar, é a evolução que esta prova sofreu ao longo dos anos em termos de marketing, passando de um desporto de nicho e de elites abastadas, para uma prova amplamente divulgada e como milhões de seguidores.
Na realidade, este é um daqueles exemplos em que o Digital teve um impacto estruturante. Se nos recordarmos deste desporto antes da “era Digital”, podemos dizer que era no mínimo entediante. A prova durava meses (tal como hoje), tínhamos algumas notícias apenas quando terminavam mais uma etapa (que poderia durar semanas), e essencialmente sabíamos as posições relativas na grelha de classificação. Ou seja, numa palavra… entediante.
No entanto, quando recorremos às tecnologias disponíveis e permitimos que a localização GPS seja actualizada a cada minuto, quando são instaladas câmaras fixas nos barcos para captar regularmente os momentos chave da navegação, quando se desenvolvem APPs para estarmos permanentemente actualizados das notícias e peripécias de cada embarcação, e quando tudo isto está ao nosso alcance através de um PC, de um tablet ou de um smartphone, a prova ganha definitivamente outro interesse.
Mas como sabemos, isto não chega! E os gestores desta Ocean Race também o sabem. Por essa razão levaram a activação Digital da prova ainda mais além, descobrindo novos territórios nunca dantes navegados.
Como? De uma forma simples… seguindo uma das regras fundamentais do Digital que é – produzir conteúdos de qualidade para a comunidade de interesse que os segue – e alavancando sobre as plataformas de social media actualmente disponíveis… claro!! Para tal colocou em cada embarcação OBRs – On Board Reporters. Estes repórteres, dedicam-se exclusivamente a captar imagens, vídeos, histórias, momentos emocionantes vividos a bordo, quase que o “behind the scenes” e regularmente enviam o seu “report” para as plataformas digitais à nossa disposição.
Uma revolução bem pensada e que tem efeitos surpreendentes. Se formos analisar as estatísticas, esta prova supera todas as expectativas de notoriedade e visibilidade junto do público em geral (acima da America´s Cup, a PGA ou o WRC), principalmente através da sua presença em Facebook (onde angaria grande parte da sua audiência com os live updates e com os day reviews emocionantes), quer através da sua dinâmica no Twitter com comentários dos próprios velejadores, quer das sempre impressionantes imagens no Instagram, quer ainda com excertos da prova em vídeo que são colocados no Youtube.
Desta forma cada vez mais digital, a organização conseguiu transportar o público para dentro da prova, transformando uma competição entediante quando vista de fora, em algo emocionante quando acompanhado “por dentro”. Quem é que sai a ganhar? Todos! Patrocinadores, equipas participantes, locais de passagem e os amantes da modalidade.
Parece-me ser um bom exemplo a seguir por tantos outros desportos de elevado potencial Digital, ou mesmo por vários negócios ligados ao entretenimento os quais, inspirados por exemplos desta natureza, podem e devem repensar o que andam a fazer para captar mais e melhores seguidores.
É caso para dizer “all aboard” desta oportunidade digital! Ahhhh, já agora, quem está na frente da prova neste momento exacto em que escrevo o artigo é o barco da TEAM BRUNEL seguido muito de perto (0,1 milhas náuticas) do barco da MAPFRE. Como é que eu sei? Adivinhem…
*Fonte : PWC – Volvo Ocean Race Race Report 2011-2012
Excelente exemplo do poder que o digital tem para alavancar de forma exponencial certos sectores/actividades que até há bem pouco tempo passavam “despercebidos” à maioria do público em geral!