Durante séculos as mulheres foram donas e senhoras da cozinha, com mestria, talento, simplicidade e dedicação.
Passando receitas, tradições e rituais de geração em geração, com doses não registadas de improviso, talento, amor e intuição, o mundo feminino sempre deixou um legado absolutamente incrível de gastronomia de inacreditável talento e reconhecida qualidade.
Eis que com o advento do milénio, novas composições familiares, novos ritmos de trabalho, a ala masculina foi gradualmente se aproximando, primeiro com ténues e esporádicas exceções, e mais recentemente com uma invasão mais massiva e viral, alavancada com fenómenos de grandes audiências como o Master Chef e similares.
Correndo o risco de brincar com estereótipos e sem querer entrar nos territórios do machismo/feminismo, pois claramente não é essa a intenção deste texto, importa destacar os principais pontos de diferença, que geram inúmeras oportunidades de negocio e de mudança de hábitos de consumo:
- qual hobby ou prática desportiva, quando se aproxima da cozinha, o Homem desde logo vai exigir uma serie de gadgets, equipamentos e
utensílios que durante séculos a mulher não precisou para brilhar. Em alta as facas japonesas, os termómetros digitais de carne, os espaços refrigerados para vinhos e ate para carnes maturadas, os tachos e frigideiras especiais;
- o simples ato de fazer um prato vira um ritual que exige preparação, musica, vinho ou cerveja a acompanhar, rituais de limpeza e organização que naturalmente diferem dos existentes, e claro, certezas absolutas de como e o que fazer;
- as receitas ganham um novo toque, ate novos nomes, e sem duvida um bife deixa de ser um simples bife, um rolo de carne ganha uma serie de ingredientes e temperos que nunca imaginaram estar juntos, misturam-se experiências com improviso e acesso a temperos que nunca se tinha ouvido falar;
- Os hábitos de compra, desde os locais, ao tipo de produtos, da sensibilidade ao preço, a forma de percorrer as lojas, de organizar o carrinho de compras e a arrumação na dispensa, tudo é diferente. Não melhor, não pior, diferente.
Das escolas profissionais e das escolas da vida tem saído ilustres Chefs masculinos, verdadeiros talentos e artistas da gastronomia, que hoje em dia fazem par com as melhores cozinheiras. Não é desta ala mais profissional que trato e pretendo referir hoje, pois neste nicho de verdadeiros profissionais, como em quase todos, não importa o género, raça ou origem, mas sim a dedicação, talento e empenho.
Falo antes da grande massa de anónimos e amadores homens que se aproximaram da cozinha pela descoberta do simples prazer de cozinhar, pela necessidade de dividir tarefas, pela alteração do status quo familiar, ou por qualquer outra razão inesperada que os aproximou dos tachos.
Esta descoberta, este novo território, esta nova conquista, estes novos prazeres e porque não, modismos, trazem o mesmo grau de satisfação associado às mais regulares praticas desportivas, cria grupos de interesse e fóruns de discussão e partilha, e no advento das redes sociais, acaba se tornando viral.
Se a sedimentação, maturidade e enraizamento destes novos hábitos levam a alterações profundas do equilíbrio natural dos casais, e novas rotinas familiares e a alterações sociais mais profundas não sei, mas desconfio que sim.
“For men who think a woman’s place is in the kitchen, remember… that’s where the knives are kept !!!!” – Unknown.
Comentários (0)