A minha timeline engana-me!!!!!

7 de dezembro de 2016

A minha timeline engana-me!!!!!

Miguel Caeiro, Country Manager Brazil & Latam at Lookout Mobile Security

A grande maioria dos utilizadores de redes sociais não faz ideia de como enviesado e distorcido é o mundo e a realidade quotidiana que aparece na nossa pagina pessoal.

A quantidade absurda de fontes de informação de que dispomos hoje em dia leva-nos para a armadilha fácil de confiar na nossa timeline do Facebook ou do Twitter para nos inteirarmos do que se passa na nossa cidade, país, grupos de interesse e no mundo em geral.

Essa mesma quantidade exponencial de conteúdo disponível, aliado ao numero crescente de utilizadores tem como consequência a clusterização cada vez maior da informação através de algoritmos “inteligentes” geridos pelas plataformas de social media.

Como resultado, acabamos por ter na nossa própria timeline apenas uma amostra muito segmentada das opiniões, dos comentários, das noticias e mesmo dos posts publicados pelos nossos “amigos” virtuais.

Esta segmentação ditada pelos algoritmos acaba por nos iludir em relação ao que “todos” pensam, ou em relação ao que “toda a gente” anda a comentar, ou em relação ao que “toda a gente” anda a fazer, ou a consumir, ou a ver, a ouvir, etc… Ficamos por isso muitas vezes surpreendidos com resultados de eleições, sondagens, audiências de televisão ou mesmo com sucessos ou falhanços de vendas de determinados produtos ou eventos, pois pensávamos que “todos” estavam a aderir.

A base de partida para este enviesamento, e o seu principal fator de distorção é precisamente a nossa base de “amigos” virtuais e das paginas de que “gostamos”. O algoritmo vai olhar para essa massa de gente e de interesses como uma floresta e não como árvores individuais com pesos iguais, determinando que, como um todo, a nossa rede de “amigos” tendencialmente esta mais à esquerda ou mais à direita politicamente, faz mais férias na neve ou no parque de campismo, viaja mais de metro, comboio ou avião, conhece vários países ou nunca viu o mar, enfim, na media (conceito sempre difícil de engolir) os nossos interesses vão ser o que a soma dos interesses dos nossos “amigos” decidir, e é essa realidade que nos vamos ver refletida na nossa pagina pessoal. Óbvio que em termos científicos e matemáticos esta definição é bem mais complexa e precisa, mas vamos ficar pelo senso comum que nos afecta diretamente todos os dias.

Mas como é possível que o concerto do artista ABC tenha sido um desastre, estavam “todos” lá, eu vi as fotos e posts incríveis?

Mas como pôde o Trump/Dilma/Costa/Podemos/….. ganhar as eleições? Estava claro pelos comentários de “todos” que ia ser uma derrota pesadíssima?

Os donos da marca XYD devem estar milionários, “toda” a gente esta a usar os sapatos deles este verão.

Nem vou tentar ir ao restaurante KLNM, pelas fotos e comentários, esta “tudo” lá.

Existe assim um novo tipo de bairrismo nas redes sociais com a agravante que nem todos nos apercebemos dessa manipulação e dessa “bolha” em que formamos as nossas opiniões.

Sendo o verdadeiro espaço da livre opinião e da democracia em que todos podem comentar sobre tudo, é assim curioso quão homogénea e concordante, de um modo geral, as nossas paginas pessoais são.

“We don’t have a choice on whether we do social media, the question is how well we do it.”– Erik Qualman.

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Por Miguel Caeiro

Comentários (1)

  1. Miguel,

    Sim, parece ser a realidade que temos…

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    “Aquilo que julgamos ser de “fonte segura”, não será mais do que o resultado de desinformação. A realidade será construída pela tecnologia e será aquilo que ela nos deixar espreitar.”
    https://franciscoteixeira.com/2016/12/12/tech-needs-more-psychologists/

    Abraço

    por: Francisco Teixeira,

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