A hipocrisia do politicamente correto

11 de abril de 2017

A hipocrisia do politicamente correto

Miguel Caeiro, Country Manager Brazil & Latam at Lookout Mobile Security

Em contraste com a era da liberdade de expressão na ponta dos dedos através das redes sociais, nunca foi tão forte a pressão hipócrita e moralista de ser politicamente correto.

Por um lado, nunca foi tão fácil e acessível para todos expressar a sua opinião sobre tudo e sobre qualquer assunto, para os seus grupos de influencia. Através das redes sociais e da internet, ficou acessível para todos a comunicação com grupos alargados, com maior ou menos interatividade.

No entanto, ao mesmo tempo, foram surgindo grupos de pressão gigantes em que tudo é posto em causa, em prol e defesa dos bens e causas maiores, causas essas que são “politicamente correto” todos defendermos. Assim, de repente, chovem críticas de todos os lados e simples e inocentes atos e rotinas tradicionais ganham rótulos de discriminatórios, machistas, sexistas e sei la mais o quê.

Não sei de onde apareceram de repente tantos defensores encartados dos animais oprimidos, das crianças mal tratadas, das mulheres descriminadas, dos índios, do racismo, das deficiências, das diferenças, dos artistas, dos professores oprimidos, dos jornalistas injustiçados, dos idosos abandonados, dos presos maltratados, dos LGBTS incompreendidos, dos obesos infelizes, e de tantas outras causas, todas válidas e defensáveis no seu próprio contexto, mas que ganharam uma omnipresença em tudo o que se faz.

Se na escola ensinam musicas como “Atirei o pau ao gato”, vade retro Dona Chica que maltratou o animal… O Lobo já não pode comer o capuchinho vermelho, tal é a carga sexual da historia… Os três porquinhos não podem ver as suas casas tão facilmente derrubadas porque estarão a insultar a classe dos arquitetos ou dos construtores, o Bambi tem sido acusado de não sofrer o suficiente pela morte dramática da sua mãe… Que avô inconsciente era aquele que deixava a pequena Heidi passear sozinha pelas montanhas com o Pedro… E quem seriam os Pais do Huguinho, Zezinho e Luisinho e porque eram obrigados a viver com o razinza do Pato Donald? Que maldade… E porque os personagens da Disney normalmente não têm Mães? Que maldade expor as crianças a essa realidade…

Se uma marca de detergentes, um shampoo, um creme hidratante, um dentífrico ou qualquer outro produto retrata personagens na sua publicidade vai sempre “apanhar” por ter cão ou não ter. Se coloca uma mulher em casa é retrograda e conservador e ofensivo para as mulheres que hoje trabalha. Se colocam um homem não pode ser bonito nem magro nem careca e tem que ter aspeto que pode estar em casa, mas não necessariamente ser homossexual, nem desempregado, nem um simples nem-nem que ainda vive com os pais, nem……. Se aparecem crianças elas não podem ser obesas, mas também não podem ser demasiado bonitas, nem…. Se aparece um grupo de pessoas tem que constar precisamente uma de cada raça, etnia, altura, peso, sexo, profissão, classe social, pois sempre vai ter aquele grupo de pressão dos ruivos do Algarve não representados.

Se num anúncio de automóveis só aparecer um homem, lá esta o posicionamento machista e retrógrada da marca com a mania que as mulheres não sabem conduzir. Se por outro lado aparece uma mulher, alem da questão delicada de escolher o seu grau de beleza, aspeto, roupa, ainda a marca vai ser acusada de que apenas colocou a mulher para não ser atacada, mas que na verdade queria mesmo era falar com os homens, por isso colocou uma mulher bonita e com o segundo botão da camisa semi-aberto, o que é obviamente uma aberração e exploração do ideal feminino.

E desgraçadas das marcas que decidirem mostrar em seus anúncios uma família tradicional, daquelas com Pai, Mãe, filhos e as mais ousadas, com os Avós no enquadramento. Que absurdo. Que destempero. Que absurdo. Querer formatar a opinião publica sobre o que é ser “normal” e ostracizando todos os demais modelos de organização familiar. Que absurdo.

Como em tudo na vida, será no equilíbrio, no bom senso e na ponderação que estará a virtude de tudo isto. Confio por isso que, quando toda esta nova época de partilha e dialogo acalmar e atingir alguma maturidade, o essencial prevaleça, na harmonia, na aceitação mutua, no respeito dos valores de cada um, mas também no respeito com as tradições, com a historia de cada sociedade, com as varias gerações, e acima de tudo compreendendo que a evolução se faz de respeito enorme pelo passado e de passos ousados para o futuro, com humildade suficiente de aprender e corrigir excessos.

Acima de tudo que o “politicamente correto” nunca nos afaste da verdade, da honestidade, da sinceridade e da construção permanente de relações de confiança e respeito mutuo. A aceitação da diferença, a aceitação do outro é fundamental para a construção de uma geração mais saudável, mas sem hipocrisias.

E que os meus netos ainda possam ouvir, sem ser na clandestinidade, “Atirei o pau ao gato”, o “Sebastião come tudo e não deixa nada para ninguém”, a “Joana come a papa”.

“The politically correct crowd is tolerant of all viewpoints, except those they disagree with. “– Bobby Jindal.

Miguel Caeiro, Country Manager Brazil & Latam at Lookout Mobile Security

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Por Miguel Caeiro

Comentários (1)

  1. Miguel, o termo “politicamente correto” foi objeto de estudo numa universidade no Canadá há uns anos envolvendo alunos e professores. Entre várias formas de desenvolver o trabalho, foi pedido a cada um que apresentasse a sua melhor definição para esse termo tão usado por todos nós.

    Venceu um aluno com a seguinte definição: “Politicamente Correto é uma invenção, sem sentido, de um jornalista italiano que tentou provar que a me*** tem uma parte limpa por onde podemos pegar”.

    Forte abraço deste teu Amigo no burgo…

    por: José Luís Rodrigues,

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