Qualquer um pode fazer pizzas em casa, mas não é por acaso que o segredo está na massa. Assim como qualquer um pode pôr líquido dentro de cuvetes e colocar no congelador, mas sabemos bem que a vida sorri apenas de uma forma especial.
Também sabemos que não são precisos mais do que uma mão cheia de dezenas de euros para vestir uns trapinhos novos, mas é fatal quando nos deparamos vestidos de igual.
Abordagens erradas são as que concluem que vivemos na era da aproximação do produtor ao consumidor. Da democratização dos meios de comunicação. E, assustadoramente, vejo todos os dias grandes profissionais a cometerem erros quando confundem comunicação com informação, quantidade com qualidade, entretenimento com conteúdo.
Não quero vestir o papel de velho do Restelo, e também ainda não tenho idade para dizer que “no meu tempo é que era bom”. Porque o meu tempo é o de agora, e o que já passei não foi melhor do que este.
Em pouco mais de uma década, fomos invadidos por novos preconceitos, batizados por buzz words como «millennials», «digital natives», que caracterizam os que não veem televisão, não leem livros em papel, e para quem os jornais são velhos papéis de embrulho de uma longínqua vida a preto e branco. Os «bloggers» são uns tipos ou umas tipas com piadas que dá para partilhar e pôr a «render likes» nas redes. Ao ponto de cancelar posts se não estão a «render». Os «youtubers» são uma malta de grande onda que tomam banho em Coca-Cola, fazem uns vídeos bacanos no quarto lá em casa, acordam tarde, não aparecem nas aulas e ganham bué com as visualizações. Dezenas de milhares de euros por «semana» (!). Com a certeza de que, quantas mais asneiradas houver pelo meio, mais rende.
E, de repente, os profissionais de gestão das marcas, «shiftam» da tradicional media das audiências, para a embriaguez dos «likes», do «engagement», das «views» porque os bloggers, os youtubers e as redes estão a bombar. Para trás, ficam os critérios: de posicionamento, de construção do valor da marca, da diferenciação.
Redes? Nada contra.
Self contents? Hummm…
Se eu fosse marketer da Coca-Cola, gostaria de ver um tipo dentro de uma banheira a tomar banho com o meu produto? Ou, se fosse profissional de gestão da marca Telepizza, gostaria de ver um youtuber star a comer uma fatia que nem um alarve?
Low budget contents?
«When you pay peanuts, you get monkeys». Com piada, que até dá visualizações, mas… “Macacos me mordam”.
E depois, há as Fake News. E a santa ingenuidade dos que acreditam. Arrastados pela facilidade com que se produz conteúdo pseudoinformativo, os incautos ou menos esclarecidos acreditam. E elaboram sobre as suas crenças. Não separando a origem credível de uma origem qualquer, ei-los chegados ao mundo da manipulação. Como diria Lena D’Água, quando cantava com os Atlântida na década de 80 do século passado: “demagogia feita à maneira, é como queijo numa ratoeira”.
Afinal, que querem as marcas? Vender, claro. Mas, como garantem que vão continuar a vender amanhã?
Voltemos atrás para ler, de novo, este texto, e contemos a quantidade de palavras e termos utilizados fora da nossa língua lusa.
Recordemos a lição de Salvador Sobral que, com uma simplicidade imperial, chegou ao topo cantando na sua língua materna.
Afinal, o que querem os Marketers?
Talvez «sucesso» na gestão e criação de valor com as suas marcas. Hoje, assim como amanhã.
E há umas quantas palavras importantes que surgem no dicionário da língua portuguesa antes da palavra «sucesso». Escolho estas: autenticidade, credibilidade e simplicidade!
Pedro Gouveia Alves, Economista
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