É professor de Marketing, licenciado em Economia pela Faculdade de Ciências Humanas e doutorou-se pela Columbia University, de Nova Iorque. Fernando Nascimento é o autor da recém-lançada obra “Platão Marketeer”, onde traça um paralelismo entre o “romance” e o marketing. O Imagens de Marca lançou-lhe algumas questões.
Imagens de Marca: O que une romance ao conceito de marketing? Como se desenrola esta acção/”relacionamento”?
Fernando Nascimento: Marketing e romance não variaram muito no essencial desde há milénios. A sua filosofia comum é a da construção, desenvolvimento e manutenção de relações que sejam mutuamente agradáveis (ou que criem valor como se diz em marketing) para os parceiros envolvidos. Como é afirmado no final do livro: “…, marketing e sedução são artes subtis que têm múltiplos pontos de contacto: Ambas exigem paciência, dedicação e uma análise atenta do real. Ambas têm os seus mitos que por vezes levam a erros estratégicos. Ambas têm elementos de técnica, mas na sua essência assentam no conceito de “poiesis” que falava Aristóteles acerca da arte.”
IM: Como é que no relacionamento Marca/Consumidor se pode chegar a “um final feliz”?
FN: Como afirmo no livro: “Quais os segredos de uma relação longa, estável e feliz como nos contos de fadas? Basicamente duas coisas que são comuns ao marketing e ao amor. Nunca tome o seu cliente/namorado(a) como um dado adquirido. Há que, de vez enquanto, reinventar a relação para evitar cair na monotonia. Novos produtos, novas embalagens, novos serviços, novos locais de distribuição são estratégias possíveis. Isso poderá contribuir poderosamente que o cliente/amante procura a quebra da monotonia com um rival.
Há que compreender que as pessoas vão mudando na vida (quer como clientes, quer como amantes) e por isso as suas necessidades também podem mudar. Assim aquilo que os faz felizes numa determinada altura da vida pode não ser suficiente noutras alturas.
Encare as queixas ou outros sinais de insatisfação positivamente. O bom cliente é aquele que se queixa, porque dá hipótese de ainda se fazer alguma coisa por ele. O que não se queixa, e simplesmente deixa de comprar, é muito mais difícil de reter.
As queixas merecem sempre uma resposta, nem que seja um simples “desculpe”. Por vezes não temos realmente uma solução para resolver a insatisfação do cliente/namorado(a) mas um simples e humilde pedido de desculpas pode fazer milagres.
Esteja preparado para as crises numa relação como algo normal desde que não sejam contínuas e sistemáticas. O segredo de uma relação longa não tem muito a haver com o que se passa durante a lua-de-mel onde tudo é visto em tons de rosa; pelo contrário é durante as crises é que o comportamento dos parceiros é crítico para o reatar da relação e levá-la de novo a um nível de saudável mútua satisfação. Hoje as empresas estão atentas a este problema e crescentemente têm investido em programas de recuperação de serviço.”
IM: Onde entra a ligação ao filósofo Platão, que dá nome ao livro?
FN: O livro Platão Marketeer não fala apenas de romance e marketing. Ao longo de vários capítulos temas como, as marcas, identidade corporativa, responsabilidade social e ética, criação de valor, filosofia, plano de marketing e outros, são tratados com intuição e simplicidade, que permita um “leigo” entrar nestas temáticas, mas ao mesmo tempo põe “especialistas” a pensar o marketing de uma forma diferente.
Um bom exemplo disto é a filosofia e marketing. Inicialmente o livro tinha um título diferente de “Platão Marketeer”, e este foi uma proposta de João Gonçalves, director de marketing da Bertrand. A princípio “estranha-se … mas depois entranha-se” como diria Fernando Pessoa, e estas foram as minhas sensações iniciais a esta proposta. Mas finalmente esta ideia venceu e hoje muita gente que já leu o livro acha que têm um título excelente. Sendo ele um especialista, o que mais lhe chamou a atenção foi a ligação entre o Marketing e as ideias dos velhos filósofos gregos como Aristóteles e Platão.
Assim, no livro Platão Maketeer os leitores são convidados a reflectirem sobre o mundo que nos rodeia na perspectiva do marketing e não é preciso serem especialistas, nem que tenham lido um ou vários livros de marketing. É apenas necessário que tenham amor à sabedoria ou seja que sejam filósofos (Philos – amor; Sofia – sabedoria) no sentido original desta palavra e que a sua curiosidade intelectual os leve a indagar sobre a sociedade em que vivemos com abertura de espírito.
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