Este apelo – em formato de vídeo – foi feito pelo velejador solitário Ricardo Diniz ainda antes de os barcos partirem de Portimão rumo à primeira regata à volta do mundo a começar e a terminar em Portugal. Ricardo acabou por não recolher os patrocínios suficientes, mas não desistiu.
No currículo já constam quatro travessias do Oceano Atlântico, uma viagem solitária Lisboa-Dakar à vela, que em 2005 aconteceu em paralelo com o emblemático rali, e uma visita às terras de sua majestade. Depois de uma longa preparação para encetar a primeira regata de volta ao mundo a começar e a terminar em Portugal, acabou por desistir por falta de patrocínios.
A desilusão transformou-se em força e Ricardo Diniz avança, agora, com a criação de um barco luso para regatas oceânicas. Em conjunto com vários estaleiros nacionais, o velejador nacional pretende construir um veleiro com, pelo menos, 40 pés (12 metros) próprio para participar em provas como a Portimão Global Ocean Race.
Empresário e empreendedor por natureza, lançou em 2003 o Projecto “made in PORTUGAL” com o objectivo de “promover Portugal e os seus produtos e empresas, trabalhando valores comuns de inovação, tecnologia e qualidade”. O esforço já lhe valeu o epíteto de “Embaixador do Mar”.
Imagens de Marca: Em que é que consiste o Projecto ‘made in PORTUGAL’?
Ricardo Diniz: Fundado em 2003, tem como objectivo comunicar Portugal como uma país de inovação, qualidade e tecnologia. Não podemos viver para sempre na gloriosa sombra do nosso passado. Utilizamos diversas plataformas, nomeadamente educativas e desportivas. O veleiro é uma espécie de embaixada flutuante da nossa cultura que representa Portugal na maior tela do planeta; Os Oceanos. Construímos um veleiro em Inglaterra em parceira com o Instituto Superior Técnico, fiz o Lisboa-Dakar, à vela, sozinho, levámos uma garrafa de Vinho do Porto à Rainha de Inglaterra quando Sua Majestade fez 80 anos. A garrafa também tinha 80 anos. No fundo são projectos simples de conceito, que facilmente cativam a imaginação e entusiasmo das pessoas, permitindo assim passar uma mensagem bem Portuguesa; Mar, Cortiça, Vinho do Porto. Temos tanta coisa boa… Somos os melhores em muitas delas. É importante começarmos a compreender, a acreditar e a interiorizar isso de uma vez por todas.
IM: Quais são as empresas envolvidas?
RD: Ao longo dos anos temos trabalhado, essencialmente, com parceiros portuguêses. Afinal de contas o objectivo é mesmo esse, promover Portugal e a nossa capacidade de trabalho. Já gerimos mais de 100 parceiros desde 1996, mais de metade em Portugal. Entre patrocinadores, parceiros e fornecedores oficiais, contamos com cerca de 15 empresas associadas neste momento, destacando Nissan, Lenovo e Alma.
IM: De que forma é feito o financiamento?
RD: No palco principal, que é o Projecto ‘made in PORTUGAL’, existem projectos destintos que na sua maioria acabam por estar interligados. Assim, tentamos rentabilizar o investimento de cada um dos patrocinadores, associando-o a todas as nossas iniciativas. Dependemos, essencialmente, de patrocinadores.
IM: Como é que o Ricardo Diniz pode contribuir para valorizar o país no âmbito da indústria náutica e da aproximação ao mar?
RD: Acredito que os nossos projectos são inovadores, interessantes e sempre com uma mensagem simples, compreendida por todos. Quem segue os nossos projectos não o faz por serem necessariamente velejadores ou pessoas ligadas ao mar. Os nossos projectos são para a maioria, para todos. Tentamos que as nossas iniciativas transmitam valores de inovação, tecnologia e qualidade, em nome de Portugal, das suas empresas e produtos. Quando levamos crianças e velejar, e são centenas por ano, sei que há uma semente que fica. Noutra escala, ao construirmos agora em Portugal um veleiro de alta competição, estamos a mostrar ao mundo que Portugal poderá ser o local ideal para construírem o seu veleiro também. Ao ter trazido para Portugal a Portimão Global Ocean Race, a primeira regata de volta ao mundo a começar e acabar em Portugal, estamos também a mostrar onde fica o nosso país, a associá-lo ao desporto marítimo e à nossa história. Mostra que não andamos a dormir. Só lamento imenso ver esta regata sem nenhum Português. Dei o máximo para lá estar, o que nem sempre chega…
IM: Portugal está a desvalorizar uma riqueza única: o mar?
RD: Julgo não ser por mal, mais por ignorância. Com um terreno tão vasto à nossa porta é compreensível que não se saiba, à primeira, o que fazer e como fazer. Estamos agora no bom caminho. É raro o dia que passa sem que se fale de mar e do potencial dos oceanos. Estamos a saber aprender com quem já tem mais experiência do que nós e acima de tudo, parece-me que, colectivamente, Portugal está agora sintonizado para com o potencial em bruto que os oceanos proporcionam a todos nós e ao mundo. Temos essa responsabilidade porque este mar é nosso.
IM: Como é que um velejador solitário se torna um empreendedor?
RD: Foi ao contrário. Precisamente por já ser bastante agitado e irrequieto ao longa da minha infância é que acabei por ser empreendedor e consequentemente apliquei isso na vela. Gerir um barco e todas as suas tarefas diárias é bastante semelhante à gestão de uma empresa. Sonhar um projecto e torna-lo real requer imensa energia, empenho, dedicação e sacrifício. De vez em quando alguém comenta comigo que adorava ter a minha vida de viagens e mar mas a realidade é bem diferente. Há muito pouco glamour e imenso suor e lágrimas. Mesmo. Também por minha escolha. Preciso do desafio empresarial no mar e em terra. Gosto de projectos. Por acaso os da vela são alguns dos mais conhecidos, mas tenho outros.
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