4 de fevereiro de 2008

Entrevistas

Danny Meyer é considerado o mais bem sucedido empresário de restauração de Nova Iorque. Esteve em Lisboa entre os dias 30 de Janeiro e 1 de Fevereiro para promover o seu livro Negócios à Mesa, editado pela  Lua de Papel. Garante que os empregados são mais importantes que os seus clientes e que só assim consegue ter a máxima hospitalidade. O Imagem de Marca conheceu este apaixonado pelo filme da Disney Ratatui, que aos 27 anos abriu o Union Square Café em Nova Iorque, o primeiro restaurante de um império que hoje em dia factura 50 milhões de dólares anuais. Conta que o segredo não está apenas na qualidade da cozinha. Num mercado super competitivo como o de Nova Iorque, onde 75 por cento dos novos restaurantes acabam por fechar, o empresário defende a “hospitalidade esclarecida” – proporcionar aos clientes experiências emocionais gratificantes

 

Imagens de Marca: Porque é que diz que os seus empregados são mais importantes que os seus clientes?

 

Danny Meyer: Aprendi muito com os meus chefes. Todos os chefes procuram fazer a melhor das receitas, mas uma receita nunca vai ser a melhor se tiver o pior dos ingredientes. O que todos os chefes sabem é que têm se encontrar os melhores ingredientes. O mercado é muito competitivo e já existem muitos bons chefes hoje em dia. Ter um bom chefe não chega é preciso investir na hospitalidade. Os empregados são ingredientes na nossa receita. Se não escolheres os empregados com melhores capacidades emocionais e não os tratares com respeito – como o chefe trata com respeito os seus ingredientes – não terás a melhor receita de hospitalidade.      

 

IM: Pode descrever a teoria do saleiro?

 

DM: Quando ainda era muito jovem no negócio e estava preocupado com o facto de este poder não dar certo, um velho conhecido meu contou-me a teoria do saleiro. Toda a gente coloca o saleiro na mesa em sítios diferentes e alguns nem o colocam. Tu colocas o saleiro na mesa e ele é mudado de sítio. Não há motivo para ficares zangado por o terem mudado de sítio, é o que as pessoas fazem. Cada vez que o mudam de sítio, deves coloca-lo novamente onde sentes que é o lugar dele, no centro. Agradou-me perceber que a vida também funciona dessa forma. Se quiseres que o futuro seja de determinada maneira e as coisas estejam a desviar-se desse caminho, o que tens de fazer é dizer: Não, é assim que vai ser!  Se fizeres sempre isso, vais ver que o saleiro fica afastado cada vez menos do centro. Assim os teus empregados vão perceber o que queres. 

 

 

A empresa:

A Union Square Hospitality Group, lançada em 1985, tem vindo sempre a crescer, introduzindo modelos de gestão inovadores nos mais diferentes tipos de serviço. O grupo engloba desde o restaurante de luxo (Gramercy Tavern) à brasserie tradicional (Eleven Madison Park), passando por casas especializadas em hambúrgueres (Shake Shack) ou churrascos (Blue Smoke).

 

IM: Conduzir um restaurante é como conduzir outro negócio?

 

DM: Julgo que é exactamente a mesma coisa. Todos os negócios no mundo têm os mesmos cinco pilares: empregados, clientes, a comunidade onde inseres o teu negócio, investidores, fornecedores. Cada empresa é livre de decidir como vai gerir a sua equipa e como vai hierarquizar estes cinco pilares. Algumas empresas dizem “os investidores estão em primeiro lugar”, outras dizem “os clientes estão em primeiro lugar”. Nós dizemos: os clientes estão em segundo lugar e temos melhor serviço e hospitalidade porque dizemos que os clientes estão em segundo lugar. Dizemos que os investidores estão em quinto lugar e fazemos mais dinheiro porque dizemos que os investidores estão em quinto lugar.

 

IM: Consegue identificar a sua maior fraqueza enquanto empresário?

 

DM: Sim, sou demasiado paciente. Julgo que se levarmos a nossa maior força demasiado longe, esta pode tornar-se a nossa maior fraqueza. No meu caso, a minha paciência é uma coisa boa porque eu quero acreditar nas pessoas e no lado bom das pessoas. Mas, por vezes, eu espero demasiado… As boas notícias são que se eu ajudar essa pessoa a melhorar, terei o melhor empregado para o resto da minha vida. Mas se espero demasiado e se ela não é capaz ou não quer melhorar, pode ser nefasto para o resto da equipa. Porque eles não percebem porque é que gasto tanto tempo com aquela pessoa, em vez de dar atenção a quem faz um bom trabalho.

 

 

IM: O que é que pensa da comida e do serviço dos restaurantes portugueses?

 

DM: Ó, meu Deus! Delicioso! Já fui aos pastéis de Belém, hoje vou ao Galeto e ontem tive no Solar dos Presuntos. Quero conhecer e aprender o máximo, principalmente sobre vinho português. Portugal está agora como Espanha estava há quinze anos atrás. O vinho fez sempre parte da vida dos portugueses, mas era apenas vinho de mesa. Hoje em dia, as pessoas acham que as uvas, o clima e a terra podem produzir vinho de classificação mundial. 

 

IM: Está a pensar levar vinhos portugueses para os seus restaurantes?

 

DM: Sim, sem dúvida.

 

IM: Sentiu-se “abraçado” nos restaurantes portugueses?

 

DM: É como na América, num sim e noutros não. Julgo que podemos aprender imenso se observarmos os empregados de um restaurante. Eles devem estar focados no seu trabalho, mas divertidos entre eles. Se eles estiverem centrados no trabalho e não estiverem divertidos entre eles, a hospitalidade não pode ser boa. Se estiverem demasiado divertidos e pouco concentrados no trabalho, o serviço também não pode ser bom. São precisas as das coisas para se ter um excelente serviço. 

 

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