O Imagens de Marca esteve à conversa com este amante da publicidade e falou de um Festival “único”, pela sua vertente de entretenimento. Entre analogias à vinicultura e à forma como é completado o produto final, Thomas Lecuyer, que já faz parte da organização do evento hà 11 anos, fala que a Noite dos Publidevoradores é feita para “falar ao coração” dos espectadores. Até porque “a publicidade não tem que sempre ser realística. Tem que nos fazer sonhar também, viajar e ter uma componente artística”.

Imagens de marca: Ao fim de 28 anos de existência, a Noite dos Publidevoradores tem já que assumir a responsabilidade de dar à audiência o melhor do melhor em publicidade. Como é que isso é conseguido?
Thomas Lecuyer:  A Noite dos Publidevoradores não é como o resto dos festivais, como por exemplo o Cannes, ou o Epica. Nós trabalhamos de uma forma subjectiva, ou seja, nós escolhemos os filmes não pela sua eficácia publicitária, mas mais por um ponto de vista artístico e cinematográfico. Acho que é essa é basicamente a razão pela qual ainda perduramos. Nós [Thomas Lecuyer e Jean Marie Boursicot, fundador da “Nuit des Publivores” em 1981. As duas únicas pessoas por quem passa a selecção dos anúncios] recebemos entre 10 mil a 15 mil filmes todos os anos, e seleccionamos aqueles que suscitam algum tipo de sentimento, aqueles que nos fazem rir, ou chorar, ou falar, ou questionar algo, que falem ao coração.

IM: É difícil não se repetirem? Ano após ano…
TL: Sim, muito. É quase como quando se faz um vinho, depende muito da colheita, da casta. Temos anos em que recebemos muito bom material e o produto final é uma compilação muito boa, como é por exemplo a deste ano. Existem outros em que a criatividade pode estar mais em baixo e com menos qualidade…

IM: E aí é mais difícil?
TL: Sim, mas de qualquer das formas tentamos sempre fazer algo muito bom, diferente e interessante.

IM: 10 a 15 mil filmes por ano são muitos filmes para visionar. Isso deve implicar muitas horas de trabalho, certo?
TM: Imensas. São cerca de três horas diárias durante três meses.

IM: E uma vez compilada a selecção partem para 47 países. O festival é sempre um sucesso?
TL: Sim, sempre. Até porque nós propomos também uma outra parte de entretenimento. Uma festa. Queremos que o nosso público seja jovem e divertido. Não é um festival de gala para vir engravatado. Por isso temos djs e outras atracções.

IM: Em onze anos que já fez parte da organização, consegue apontar um ano que tenha sido excepcionalmente bom, em termos de criatividade?
TL: É difícil. Acho que após 2001 se verificou uma quebra na criatividade. Penso que andávamos todos um pouco em baixo por causa dos acontecimentos desse ano. Durante dois ou três anos senti que toda a gente andava demasiadamente séria, fria até. De há dois anos para cá já sinto que as coisas começam a florescer novamente, e têm-se feito coisas extraordinárias em publicidade.

IM: E nesta edição? O que é que podemos esperar?
TL: Este ano é muito bom. Foi uma boa colheita. Vamos mostrar que a publicidade consegue ser cinema, que o cinema não existe sem publicidade e que a publicidade não vive sem o cinema. Temos filmes dirigidos por realizadores famosos e com estrelas muito conhecidas. Mas também temos o oposto. Temos desde produções que poderiam ter custado um ou dois euros, até superproduções, como por exemplo um dos anúncios portugueses que temos no programa, aquele para a Sagres com o Pierce Brosnan.

IM: Com tantas horas de visionamento já pode seguramente assumir uma posição de crítico. Nota que a publicidade varia de país para país? Consegue apontar novas tendências para a forma de fazer publicidade?
TL: Cada vez menos, por causa da globalização. Já temos quase todos necessidades muito parecidas, compramos e usamos as mesmas coisas, ouvimos as mesmas músicas, e afins. Vai sendo difícil fugir a este registo, mas de vez em quando surge um ou outro tesourinho e nós rebuscamo-lo.

IM: Existe sempre um grande mistério em torno da vossa selecção que dura até à última hora. Tem sido sempre assim?
TL: Sim, e isso tem uma razão. São cinco horas de filme que nós queremos que seja uma surpresa constante. Tanto temos num momento um filme humorístico que nos faz não conseguir parar de rir, como logo a seguir surge um anúncio que nos parte o coração.

IM: E isso é algo que têm em conta quando montam o filme final?
TL: tentamos sempre jogar com as emoções das pessoas. Está tudo pensado…