28 de abril de 2008

Entrevistas

Existem cerca de dois milhões de portugueses hipertensos. Dados preocupantes avançados pelo Ministério da Saúde, mas que se tornam mais perigosos quando se sabe que apenas metade tem conhecimento de que tem a pressão arterial elevada, um quarto está medicado e cerca de 16 por cento tem esta situação controlada. “Não restam dúvidas que a HTA é o principal factor de risco de doença cardiovascular. Segundo um estudo recente da Organização Mundial de Saúde, 14 por cento das mortes mundiais ocorre devido a complicações associadas à hipertensão arterial”, explicou ao Imagens de Marca Manuel Carregeta, Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, FPC.


 



É lançada esta terça-feira a habitual campanha da FPC inserida nas comemorações de “Maio, Mês do Coração”, este ano com o slogan “Meça a tensão por si e por quem gosta de si”. Um caso em que o marketing fica ao serviço da Saúde. Em parceria com a Sociedade Portuguesa de Hipertensão, a campanha de saúde pública da FPC foi realizada pela agência MSTF Partners. Este ano a campanha tem uma novidade porque está focada, mais do que nunca, na necessidade de aumentar o número de hipertensos diagnosticados, que é hoje o problema mais importante. Manuel Carregeta explica esta preocupação extra: “Em grande parte, como consequência da insuficiente abordagem diagnostica e terapêutica da hipertensão arterial, só os acidentes vasculares cerebrais, AVC, mataram cerca de 20 mil portugueses em 2007 e são a principal causa de morte em Portugal, bem à frente da doença coronária e do cancro”.  Os AVC são também a principal causa grave de incapacidade em Portugal, país que na Europa ocidental é líder destacado nesta patologia.


 


Como a hipertensão é um problema que deve preocupar a população em geral, a aposta vai para uma divulgação generalizada. O objectivo é que “a campanha chegue a todos os portugueses através de spots televisivos e de rádio, da imprensa (diária, semanal e mensal) e dos painéis publicitário nos diversos transportes em Lisboa”. Para além disso, está previsto que os alertas estejam presentes ainda nos Centros de Saúde e nos mupis de todas as cidades do país.


 







O Presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia pede o apoio de toda a sociedade, principalmente das marcas, na sensibilização da sociedade. Algumas marcas já têm respondido a este apelo e incorporam a vertente saudável nas suas estratégias de marketing. Um destes exemplos é a Becel, que se apresenta como especialista na área cardiovascular. O marketing da Saúde começa a reverter em números de venda para as marcase, ao mesmo tempo, é eficaz na alteração de hábitos de consumo da população. Outra estratégia passa pela associação das empresas a instituição credíveis, como é o caso da FPC, com o objectivo de dar credibilidade aos benefícios dos produtos.


 


 


Imagens de Marca: Quais são os grandes pontos-chave da campanha “Maio, Mês do Coração”?


Manuel Carregeta: Para além da abertura do mês de Maio no Palácio Foz, na cidade do Porto, vamos ter o concurso do coração no Estádio Universitário, uma reunião no Hotel do Luso, organizado pela Delegação Centro da FPC e um simpósio cientifico no Hotel Estoril Palácio, no dia 29 de Maio. Ao longo do Mês vamos ter uma campanha mediática com spots televisivos, de rádio, jornais e cartazes nos mupis e autocarros da Carris.


 


IM: Têm sido registados frutos das campanhas anteriores?



MC: Vamos efectuar um estudo Projecto Coração Feliz para avaliar o impacto da campanha e comparar os resultados obtidos anteriormente por este Projecto.


 


IM: Considera que ainda há um longo caminho a percorrer no sentido de uma mudança de hábitos, nomeadamente no incentivo à medição da tenção arterial regularmente?


MC: O controlo da hipertensão arterial tem melhorado pouco nos últimos anos, o que se deve em grande medida ao facto das mensagens, apesar de baseadas em cada vez maior evidência científica, não motivarem suficientemente a maior parte da população.


 


O facto de se tratar de uma doença essencialmente silenciosa explica de algum modo a sua falta de visibilidade e o seu esquecimento pelos doentes e pelas famílias. Por isso tornam-se necessárias campanhas mais agressivas e melhor dirigidas. É imperioso aumentar os níveis de diagnóstico e de controlo. A educação escolar deve dar maior relevo a problemas como a hipertensão, que no nosso país, pela grande frequência das complicações que origina, tem uma enorme importância.


 


IM: Pode-se fazer alguma coisa ao nível dos estilos de vida?


MC: A urbanização crescente da nossa sociedade, com um estilo de vida em que predomina o sedentarismo e uma alimentação demasiado rica em calorias, gordura animal e sal tem conduzido a uma epidemia de obesidade, sindroma metabólica e diabetes que estão associadas à HTA. Medidas urbanísticas que tornem as cidades mais saudáveis, nomeadamente com mais espaços verdes, dependem em grande medida da iniciativa de políticos e autarcas.


  


IM: Que outros factores contribuem para este estado de coisas?


MC: Estudos promovidos pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão têm chamado a atenção para o elevado consumo de sal da população portuguesa, o que pelas suas consequências tem merecido a preocupação dos profissionais ligados à hipertensão. Para minorar este problema torna-se necessário a contribuição do legislador e da indústria alimentar.


 


Por último, o envelhecimento progressivo da população, como resultado combinado da baixa natalidade e dos progressos médicos e sociais ocorridos com resultados bem visíveis, tem contribuído para o aumento da prevalência da hipertensão arterial que se torna mais frequente nas idades mais avançadas.


 


 


IM: Que actores da sociedade podem contribuir para um maior alerta?


MC: O controlo da hipertensão arterial e das suas complicações exige a colaboração de médicos e doentes, de responsáveis políticos e jornalistas, pois só com o contributo da sociedade como um todo será possível vencer este grande desafio que não é só médico mas também social.


 


Os médicos de família têm um papel fundamental no diagnóstico e controlo da HTA. Sem dúvida que são os profissionais de saúde melhor colocados para detectarem a hipertensão arterial, preconizarem as medidas de estilo de vida adequadas e se necessário, prescreverem um ou mesmo mais de um fármaco para assegurar níveis tensionais adequados. Acho mesmo que sem o seu envolvimento e empenho será impossível ter sucesso no combate a este flagelo.


 


A Fundação Portuguesa de Cardiologia e a Sociedade Portuguesa de Hipertensão ao juntar as forças estão a dar um bom exemplo ao país.


 


 


 


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