2 de dezembro de 2010

Entrevistas

“Think different and then just do it” é a frase publicitária com que João Geada, King of Lalaland, define a sua agência que arrancou recentemente.


O criativo, que esteve mais de uma década ao serviço de algumas das maiores agências internacionais, os 3 últimos dos quais na JWT, lançou-se na sua própria aventura, uma agência fair-cost. O Imagens de Marca quis saber tudo.


 


 


 


 


Imagens de Marca (IM) Ao fim de alguns anos à frente da direcção criativa da JWT que balanço faz da experiência? Que ensinamentos trouxe de lá?
João Geada (JG):
Estive mais de uma década, cerca de 12 ou 13 anos, à frente da criatividade de grandes agências multinacionais como a Proximity Portugal e a Wunderman Espanha e desses anos, estive apenas os últimos 3 na JWT onde partilhei a direcção criativa com dois optimos profissionais, o Jorge Barrote e o João Oliveira. Com eles, aprendi muito sobre publicidade tradicional, principalmente sobre a publicidde em TV e em radio, que era a área onde eu tinha menos experiência e precisamente onde eles têm mais. A experiência foi positiva por isso mas também por me ajudar a consolidar as minhas ideias e, acima de tudo, por aquilo que é sempre a melhor experiência de todas que é conhecer e trabalhar com gente que aprendemos a respeitar e com as quais construimos amizades para a vida toda. embora com alguma delas tenha de esperar que passem os amuos por que entenderam mal o meu posicionamento anti-sistema dos grandes grupos e assumiram-no indevidamente como um ataque pessoal.


 



IM:  Como surge a Lalaland e qual o porquê deste nome?
JG:
Quem trabalhou comigo, conhece a insatisfação que tinha com os moldes em que o negócio da publicidade estava a evoluir, ou para ser mais correcto, a decair, e conhece também as constantes tentativas que fiz enquanto colaborador dos grandes grupos, para acima de tudo, a descomplicar e tornar mais digna. Infelizmente se algumas correram bem, outras foram completamente frustradas, principalmente pelo poder distante dos grandes grupos accionistas, muito preocupados com os lucros e pouco atentos e activos em relação à rápida (r)evolução do mundo.
Tenho 43 anos e tinha decidido já há uns anos, que se até aos 45 não me sentisse maioritariamente confortável numa agência construiria a minha, e foi isso que aconteceu, 2 anos antes do limite previsto porque as mudanças também aceleraram nos ultimos tempos.
O nome Lalaland vem, curiosamente, de uma ‘crítica’ que alguns colegas me faziam quando eu me deixava levar pelo entusiasmo de ideias aparentemente loucas e inviáveis, nessas alturas eles costumavam dizer ‘lá estás tu na Lalaland’ e uma vez que a minha agência pretende ser um sitio que torna possível as ideias ‘loucas e inviáveis’, comecei por tangibilizar a minha estadia na Lalaland.


 


IM: Que conceito é este de low-cost com que nasce a agência? E como vai ser aplicado?
JG:
O conceito não é de low-cost, é de fair-cost ou custo justo e tem essencialmente a ver com o posicionamento da Lalaland em que defendo que é possível fazer publicidade com organizações, estruturas e consequentemente, custos muito mais simples, leves e flexiveis, e atenção que sou contra a compartimentalização da publicidade e entendo-a como responsável por toda e qualquer manifestação de uma marca para interagir com os seus públicos. Ou seja, a Lalaland está a ser organizada e estruturada de forma a reduzir os custos com a manufactura do produto que vendemos, as nossas ideias. Se não tivermos estruturas pesadas, não cobrarmos comissões pelo trabalho desenvolvido com outsorcers, não cobrarmos artes finais de coisas que já estão ‘arte-finalizadas’ quando são maquetizadas, não perdermos horas em reuniões e deslocações desnecessárias, etc, o custo justo do trabalho acaba por ser uma consequência natural.
Outros aspectos importante do fair-cost, é que procuramos sempre a forma mais cost-effective de chegar aos resultados pretendidos e estamos sempre dispostos a adequar as condições de cada contrato à realidade de cada cliente e de cada projecto.


 


 


IM: De onde vem esta ideia? Foi uma oportunidade de mercado que encontrou? Em que é que se inspirou?
JG:
Sou muito curioso, observador e inquieto e a ideia, como todas, foi algo que fui construído ao longo dos anos e que sofreu múltiplas influências. O facto de ter experienciado muitas coisas que sempre achei que podiam ser feitas de outras formas, o contacto com clientes e projectos nos quais fui percebendo que havia vontade e oportunidade para isso acontecer e onde fui tentando aplicar algumas das minhas ‘teorias’, e a minha obsessiva atenção com tudo o que se passa por aí, incluindo histórias motivadoras como as da kessel Kramer,  da CP+B, da Droga5, da Shackleton e algumas outras. Por ultimo, os acontecimentos dos ultimos anos vieram dar-me alguma razão e acelerar a minha decisão, acredito piamente que esta crise marca o fim de uma longa era e um novo principio para outro tipo de sociedade e quero muito ter uma empresa preparada para ela.


 


 


IM: Acha que quem procura o serviço das agências está preparado para o conceito low-cost? O mercado sente-se seguro em entregar a sua comunicação numa agência com estas características? Está a mentalidade do mercado preparada para esta conceito?
JG:
Fair-cost sim. Repare que o produto e serviço é euiparável, ou até melhor, que na maioria das grandes agências e pelas ‘guerras’ sobre os fees a que assisti na minha era de multinacionais, não só acho que o mercado está preparado como até diria que está ansioso por esquemas de remuneração mais adequados, simples e justos.
Por outro lado tenho a suspeita que a forma como proponho encarar a publicidade, vai ser muito dificil de ser abraçada por algumas das grandes estruturas de marketing, principalmente no nosso país. Creio que há muitos clientes grandes que, por culpa das suas agências e pela forma desastrada como dirigiram o negócio nas ultimas décadas, foram lentamente perdendo o respeito pelo nosso trabalho e estão pouco abertos a aceitar a grande mudança de paradigma que defendo e que tem a ver com a evolução da tecnologia e com a forma como todos estamos ligados o que leva a que já não seja necessário fazer enormes investimentos para impactar toda a gente porque se impactarmos de facto as poucas pessoas que influenciam todas as outras, as teias de influencia estão maiores e mais ágeis que nunca. Por exemplo, antes a minha opinião sobre qualquer assunto chegava a 10, 20 pessoas do meu ciclo pessoal e profissional. Hoje chega facilmente e rapidamente aos meus quase 2000 contactos das redes sociais e se esses concordarem, chega facilmente aos milhares de amigos de todos eles e assim sucessivamente. É cada vez mais comum ver, por exemplo, um video no YouTube chegar em poucas semanas às centenas de milhões de views, ainda por cima intencionais. Quando paramos para pensar nisto, é realmente impressionante.
De qualquer forma não pretendo trabalhar com toda a gente, há até certas empresas dirigidas por gente com mentalidades muito tacanhas com as quais prefiro não trabalhar. O mundo é muito grande há lugar para todos e a Lalaland não respeita fronteiras.


 


 


IM: O que vai diferenciar esta de outras agências?
JG:
Vamos tentar mudar tudo o que acreditamos que está mal na publicidade sem medo de cometer erros, sem ‘baixar as calças’ pondo o dinheiro à frente do que acreditamos, sem mega estruturas para compensar a falta de talento, sem inventar esquemas para cobrar mais qualquer coisinha, sem desperdícios do que quer que não seja bom desperdiçar, sem sistematizar o nosso trabalho que deve ser sempre diferente e cada vez melhor, sem alinhar com o main stream e com o status quo, sem participar em concursos estranhos, evitando aves raras, com toda a seriedade mas também com muita diversão, com muita humildade mas também com assertividade, com as melhores ideias que conseguirmos ter e implementar, com brio e sem medo rigorosamente nenhum de engolir sapos e mudar tudo sempre que chegarmos à conclusão que estávamos completamente enganados.
Se tivesse que resumir o posicionamento da lalaland numa palavra escolheria descomplicada


 


IM: Que clientes já estão a trabalhar?
JG:
Estamos essencialmente a trabalhar para clientes, e agora vou ser pouco modesto, que ainda nem sabem que o vão ser,, porque selecionámos algumas marcas e pessoas com as quais gostariamos muito de trabalhar e estamos a preparar ´pitch’s a la Lalaland’ para elas.
Clientes efectivos já a realizar trabalho facturável temos dois, Minigarden e Taxi Interactivo. Depois temos alguns outros que me acompanham há já algum tempo mas que ainda não está na altura de revelar.


 


IM: Quais as metas para o primeiro ano de funcionamento?
JG:
Numa outra entrevista que dei recentemente fizeram-me uma pergunta semelhante e vou responder também o mesmo, acho que os tempos não estão para grandes futurologias e ficarei muito feliz se, ao contrário da maioria das agências tradicionais, a Lalaland for sustentável e conseguir ter trabalho bom na rua, mantendo a integridade do projecto.
A minha meta é acima de qualquer outra coisa, continuar feliz e a divertir-me com esta profissão que adoro (mantendo a ‘comida na mesa’ para os meus 5 filhotes) e conseguir o mesmo para todos os que conseguir influenciar, sejam colaboradores, parceiros, clientes ou ‘consumidores’.


 


IM: Com uma frase ao estilo publicitário como caracteriza a Lalaland?
JG:
Escolheria a fusão das assinaturas de duas das marcas que mais admiro, “think different and then just do it”.


 

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