No dia da Conferência Anual da APAN – Associação Portuguesa de Anunciantes, onde serão apresentados os resultados de um estudo que mede a confiança dos portugueses na publicidade, efectuado pela GFK Metrics, o Imagens de Marca esteve à conversa com a Secretária-Geral da organização, Manuel Botelho.
Imagens de Marca (IM): Que principais questões são levantadas neste estudo?
Manuela Botelho (MB): No actual contexto surgem questões de fundo associadas às escolhas e percepções das pessoas. Principalmente, quisemos saber como está a confiança dos cidadãos em Portugal na publicidade e de que forma é que isso se reflecte na marcas.
Encontrámos globalmente uma menor confiança dos cidadãos nas instituições, com especial destaque para alguns sectores onde a confiança diminuiu bastante. Mas também encontrámos um novo “conceito” de confiança: uma confiança mais frágil, fluida, democrática e dispersa. Por outro lado, reconhecemos neste estudo um consumidor diferente, cada vez mais advocate, que fala das marcas, das suas boas e más experiências. Com efeito, percebemos que a maioria dos consumidores são aquilo que designamos de ‘buzzers’. Há também um número significativo de ‘high buzzers’ que geram um efeito viral em relação às suas opiniões e comentários, uma tendência de grande relevância para as marcas e para a publicidade.
IM: Como é vista a publicidade, neste momento, por quem a faz, encomenda e recebe?
MB: Os cidadãos reconhecem que os anúncios são responsabilidade das marcas, e consideram que apenas uma parte das campanhas publicitárias acrescentam real confiança às marcas e é muito interessante neste estudo percebermos porquê e com base em que critérios é que isso acontece. No actual momento de contracção económica, o consumidor torna-se mais racional e refugia-se em quem confia (familiares e amigos) mais e em quem lhe dá a melhor relação qualidade-preço.
IM: A crise económica, de que forma influencia a percepção e criação de publicidade no mercado?
MB: A crise económica fez descer o nível de confiança dos cidadãos não apenas nos governantes, mas também nas grandes empresas , particularmente as das áreas da banca e seguros. A família e os amigos tornaram-se nos principais pilares de refúgio dessa falta de confiança, apresentando os maiores índices de confiança sendo quem apresenta os valores mais altos relativamente aos índices de confiança.
IM: Como vê o actual mercado da publicidade, em Portugal e global?
MB: Claramente em grande mudança e muito mais complexo, não apenas pelo desenvolvimento tecnológico com grande impacto em todo o processo de comunicação, como pela actual situação económica e social. Nesta matéria Portugal acompanha o que se passa internacionalmente.
IM: Na sua opinião, os portugueses confiam na publicidade? Se não, o que podem criativos, agências, anunciantes fazer para melhorar esta relação?
MB: Os consumidores têm actualmente uma relação pouco emocional com as marcas, agravada pelo facto de considerarem que elas só querem vender e não se preocupam com eles.
Verifica-se também uma quebra nas relações emocionais estabelecidas entre o consumidor e a marca o que resulta numa quebra de confiança na publicidade, o que é um complexo desafio para o sector. No entanto, nada está perdido desde que os profissionais de Marketing e Publicidade queiram restabelecer os índices de confiança através de mensagens publicitárias de credíveis, transparentes e explicativas (âncoras daquilo que o consumidor considera um bom anúncio de publicidade).
Julgo que a conferência da APAN será também um momento relevante para percebermos, em conjunto – criativos, agências, anunciantes e meios – qual é o melhor caminho para (re)conquistar a confiança dos consumidores portugueses e para consolidar a sua relação com as marcas.
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