*Copywriter Wieden Kennedy Xangai
A máxima pareceu-nos interessante e um bom ponto de partida para entrevistar aquele que foi considerado o criativo mais novo a trabalhar na Young & Rubicam Portugal – tinha 19 anos de idade.
Christian Balivet, um jovem criativo, filho de pai francês e mãe portuguesa foi, aos 22 anos de idade, bater à porta da Wieden Kennedy Xangai, uma das maiores e mais prestigiadas agências de publicidade do mundo, valendo-lhe um estágio que acaba de se converter numa contratação.
Bacharel em Marketing e Publicidade pela Universidade de Lincoln, Christian passou ainda pela Restart, onde fez o Curso de Criatividade Publicitária e pela Lisbon Ad School, onde aos 19 anos foi convidado para ser redactor na Young & Rubicam Portugal. Desde então, o percurso deste jovem criativo tem-se cruzado com nomes como a TBWA, a Mother ou a Saatchi&Saatchi.
De regresso a Xangai, agora como uma das mais recentes contratações da Wieden Kennedy, Christian falou ao Imagens de Marca sobre o mercado asiático, as expectativas para o futuro e a visão que tem da rede que agora vai integrar.
Christian Balivet – Como surgiu a possibilidade de ir estagiar para a Wieden Kennedy?
Imagens de Marca – A possibilidade não surgiu, a possibilidade fui eu que a construí. Desde da minha adolescência que planeio a minha vida em função da esfera profissional em prol da pessoal. Tenho 22 anos e nos últimos anos investi-os numa licenciatura em Londres, a qual acabei com a nota máxima. Pelo meio tive em duas escolas de portfolio, onde na Lisbon Ad School com 19 anos o Pedro Ferreira me convidou para a Y&R. No ano seguinte não resisti a tentação de aceitar uma proposta da TBWA, em vez de ir de ferias de verão. Também desenvolvi projectos para agências como a Mother, Saatchi&Saatchi e BBH. Este ano, assim que me graduei, fiz uma viagem pela Ásia, bati à porta da Wieden+Kennedy Xangai, que é a minha Network de eleição, apresentei o meu portfolio, fiquei à experiência um mês e depois contrataram-me.
IM – Como é trabalhar numa agência internacional várias vezes premiada?
CB – Trabalhar numa agência internacionalmente premiada, nos dias de hoje, tendo em conta a globalização, tornou-se em algo quase comum. Agora, trabalhar numa network como a Wieden+Kennedy, que tem como filosofia celebrar o talento dos seus trabalhadores em detrimento dos prémios, faz com que estejas rodeado por pessoas absurdamente dotadas e com um grande espírito de equipa que rapidamente conquistam o teu respeito e confiança. Com a aliciante de que todos os briefings têm escrito no cabeçalho “Nike”, “Converse” ou “Nokia”, que são clientes que pela sua cultura publicitaria são obrigados a exigir melhor do que o que já foi feito. Todas as manhãs calço as meias com gosto!
IM – Como vê o Mercado Asiático?
CB – O Mercado asiático é impossível de ser generalizado. Temos o Japão e Singapura que são mercados desenvolvidos e com um historial capitalista. E depois temos a China como a segunda maior economia mundial, mas com um salário mínimo de 100 euros (isto nas cidades mais desenvolvidas), e ainda muito impermeável à cultura do Ocidente. Estas discrepâncias obrigam a que não só se resolva problemas de comunicação, mas também de marketing e de educação de consumo. Por exemplo, o número de pessoas que jogam basquetebol na China é superior a população total dos Estados Unidos, a esmagadora maioria jovens universitários. No entanto esta comunidade – “elite” – tornou-se no quarto grupo social mais fraco a seguir aos sem-abrigo, emigrantes e desempregados, sem qualquer poder de compra para artigos Nike. Resolver um problema desta estirpe exige uma maior elasticidade mental pela necessidade de olhar para outras áreas como sociologia, média, contextos culturais, criação de produto, entre outras, de modo a encontrar soluções para problemas que são atípicos no Ocidente. A China está, sem dúvida, entre os “Sete Cumes” para quem gosta de resolver problemas.
IM – A forma de fazer publicidade é diferente?
CB – Considero que seja como em todos os mercados, onde há sempre dois tipos de publicidade praticada, porque há sempre dois tipos de agência. O primeiro grupo são as grandes multinacionais (WPP, Publicis e Interpublic), onde a máxima é a facturação. Neste grupo, os criativos têm obrigatoriamente de falar chinês portanto são maioritariamente chineses. Isto traduz-se naturalmente em trabalho criativamente ainda ingénuo, devido ao facto de a população chinesa ter uma formação milenar académica que sempre privilegiou a ciência e reprimiu o pensamento criativo, acrescentado ao facto de que o mercado publicitário tem pouco mais de 20 anos. Depois existe o segundo grupo de agências, como a Wieden+Kennedy e a BBH (ambas de Xangai), que mantêm a sua alma criativa através de um equilibro simétrico entre o talento nacional e o estrangeiro, o que faz com que ambas tenham uma coerência criativa em todos os seus trabalhos.
IM – Quais são as especificidades?
CB – O Executive Creative Director, por exemplo. Nick Barham é um misto de referência e sonho em todos os departamentos de planeamento, por ter sido o primeiro planner a subir a Director Criativo.
A WK Shanghai também foi das primeiras agências a introduzir um “Creative Technologist” no processo criativo. Sendo a tecnologia um elemento dominante em todas as campanhas, torna-se fundamental ter um especialista que saiba usar a tecnologia e adapta-la às ideias, em vez de impossibilitar a implementação das mesmas.
Esta confluência de capacidades singulares no departamento criativo faz com que o espectro criativo seja aumentado e que haja uma grande solidez nas campanhas integradas.
A maior ironia de trabalhar na China é que todos os anúncios que eu vejo no dia-a-dia e que eu produzo, devido as complexidades da língua não os consigo perceber.
IM – Que projectos trabalhou?
CB – Estive envolvido em projectos para a Nike Running e Asian Games, nas categorias de activação, digital e filme. E também estive inserido num projecto de New Business, desde a fase de planeamento até ao pitch.
IM – Que expectativas tem agora para o futuro na agência?
CB – As minhas expectativas para o futuro são crescer dentro da agência, fazer crescer a agência e dominar o mercado chinês.
IM – Que principais diferenças nota, em relação ao Mercado português?
CB – Pela sua dimensão e pela sua importância socioeconómica no Mundo não é razoável tentar fazer paralelismos. É preciso relembrar que só a população de grande Xangai é quatro vezes superior à de Portugal.
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