Eu assisto a um jogo de futebol como quem vê um filme na televisão num domingo chuvoso à tarde, ou seja com um certo desprendimento. Há quem diga que o meu desapego ao desporto bretão foi a causa da minha expulsão do Brasil, mas desminto, o meu problema é que não danço samba mesmo. Mas voltando à bola, não fico alheio ao que se passa em campo e posso mesmo afirmar que de forma geral conheço as regras do jogo e gabo-me de já ter assistido há uns anos na Catedral (vê como eu sei?!) a um derby (uau!) onde foram marcados 19 golos, alguns no tempo regulamentar, outros no prolongamento e mais uns tantos na decisão por penalties. Foi interessante, confesso, mas estava um frio de rachar e como as aquibancadas não são propriamente o lugar mais cozy do mundo, engripei-me e fiquei de cama nos dois dias seguidos, comprovando que o futebol definitivamente não é a minha praia.
Na época ainda jogavam o Sabrosa e o menino do hamburguer, o Nuno Gomes, na equipa encarnada, e o Liédson que hoje joga no Corinthians (ahá!) nos verdes. Reconheci-os lá do alto enquanto tentava acompanhar o desenvolvimento da partida sem compreender porque é que as claques de uma mesma equipa se confrontam. Disseram-me que não era coisa que se explicasse.
O facto é que do alto do estádio nos apercebemos da movimentação em campo, coisa que na transmissão pela tv não se vê. Se visto de cima a coisa parece intrincada, no plano de jogo, ou seja no campo, isso deve ser mesmo complicado. E com uma bola nos pés então, pior ainda! Assim percebo a expressão que os aficionados da bola utilizam quando se referem a um bom marcador: o gajo (!) teve uma boa visão do jogo.
Essa ‘visão’ a que se referem é a visão periférica, ou wikimente falando, “a propriedade da visão de perceber o que está fora do foco principal de visão”. Esta capacidade de peceção é igualmente importante na condução automóvel, quando temos que estar focados no que se passa à nossa frente e ao mesmo tempo atentos ao que acontece à nossa volta. Curiosamente os jogadores de futebol tendem a esborrachar os seus carrões, o que me leva a crer que poupam a sua visão periférica enquanto gastam a borracha dos pneus.
No nosso jogo diário de criação somos cada vez mais solicitados a utilizarmos as nossas capacidades de visão abrangente, uma vez que vamos sendo progressivamente sendo mais ‘atacados’ pelas fontes de informação que nos rodeiam. Não podemos ficar à defesa, temos que correr para a frente, ensaiando passes novos para driblar o que não nos interessa enquanto procuramos nos orientar em direção ao nosso objetivo.
Entretanto a visao periférica já não nos basta, temos que desenvolver a audição / interpretação / assimilação periféricas se quisermos marcar. E ‘marcar’ significa criarmos nós próprios pontos de comunicação e informação que vão se degladiar pela atenção do nosso público alvo. Uma marca fabulosa, uma campanha de arrasar, um site fantástico, um evento estrondoso, um rótulo de cair o queixo, uma loja de sonho, são golos que temos que meter.
Quem diria que eu um dia falaria de futebol… ou foi de visão? Ó diacho, é melhor dedicar-me ao dominó.
p.s. claro que homem que é homem gosta de bola. As que eu aprecio são de carne e chamam-se almôndegas… e já agora, é uma mini sff : )
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