Ficaram conhecidas como as “ilhas do Porto” e foram geradas pela industrialização da cidade durante a segunda metade do século XIX. Normalmente associados ao estigma de serem locais com problemas de higiene e segurança, estes bairros acabaram por serem estudados e pensados como projetos de habitação social logo a seguir à revolução do 25 de abril de 1974.
Alguns destes bairros foram desenhados para o programa SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local) por conhecidos arquitetos, como é o caso de Álvaro Siza Vieira. Agora, 40 anos depois, este nome maior da arquitetura nacional, distinguindo com o prémio Pritzker, regressa ao coração do Porto como autor do projeto de reabilitação do Monte de Lapa.
Promovido pela Casa do Conto, este novo empreendimento pretende trazer uma nova vida a esta ilha com a reabilitação do seu núcleo habitacional, acrescentando-lhe uma vertente turística. O objetivo passa por aproveitar o aumento de turistas na cidade, preservando a identidade e ADN daquele local, com a manutenção da sua população local.
Na nossa rubrica Portugal Genial tivemos oportunidade de entrevistar os promotores deste projeto, Alexandra Grande e Nuno Grande, que nos explicam como é possível hoje conceber um empreendimento com estas características, que consiga contrariar um pouco a oferta hoteleira padronizada e desenraizada do contexto urbano, mantendo a genuinidade e autenticidade da cidade.
Uma proposta para o mercado especulativo e gentrificado:
Um programa de reabilitação que coloca muitas dúvidas na sua essência projectual. A primeira relaciona-se com o direito à cidade e a promoção das ilhas para os moradores do Porto; a segunda, com a duplicação das áreas de habitação e consequente aumento das suas rendas e expulsão dos mais pobres; terceiro, a ideia de promoção turística que lhe está subjacente e que obrigatóriamente vai contribuir para a expulsão dos poucos moradores que lá habitam pelo aumento das rendas. Uma proposta de projecto que vive de uma marca Siza Vieira que não sendo um projecto para o realojamento das classes mais desfavorecidas vai agravar e acentuar a gentrificação à imagem do que se passa no Bairro da Bouça. Um discurso pós-moderno que enrola a cidade, a habitação e a memória operária mas em função de um mercado fortemente especulativo. A utilização da imagem da Ilha da Bela Vista reabilitada a partir de um programa de Arquitectura Básica Participada nada tem haver com esta proposta de mercado que não defende o Direito à Habitação na Cidade.
Eu conheço bem a Lapa, mas vou fazer uma referência à travessa nossa senhora da Lapa. É uma rua com uma subida íngreme, mas logo que chegamos ao topo deparamos com vários edifícios, ligamos entre si, formando um ângulo reto. Todos eles estão revestidos de azulejos bem datados.
Ali moraram pessoas, algumas delas vindas da província, mas que para aqui vieram trabalhar. Entretanto faleceram e as casas ficaram ao abandono. Uma pena. Todos com vista de mar.