Facto: a crise económica Mundial está instalada. Outro facto: os níveis de desemprego não param de aumentar e o desalento é generalizado. Os espanhóis, cansados de pessimismos, arregaçaram as mangas e criaram uma campanha de marketing inteligente, a que chamaram “Esto solo arreglamos entre todos”.
“Esto solo arreglamos entre todos” é o nome dado pelo espanhóis a uma campanha de marketing inteligente que foi lançada recentemente e já está a mobilizar um país inteiro. “Isto só o conseguiremos entre todos” é em bom português o nome da campanha que pretende acabar com os sintomas de pessimismo gerados pela crise económica Mundial.
O movimento tem a sua génese na BBDO Consulting. O seu presidente, em conversa com o director de publicidade da Telefonica, concluiu que um dos grandes problemas desta crise é a “quebra do optimismo, a situação de pessimismo generalizado”, explicou ao Imagens de Marca David Lacasa, consultor sénior da agência de publicidade.
“Foi criado um plano de marketing onde o objectivo é mobilizar a sociedade. Todos juntos podemos mudar a tendência da economia”, avançou David Lacasa, para quem a sociedade civil e empresarial pode fazer alguma coisa, sem ter de esperar pelas medidas do Governo espanhol.
Neste sentido, a BBDO Consulting realizou um estudo para saber qual a estratégia mais adequada para sustentar a campanha. Resultado: os inputs teriam de vir das empresas e de alguns líderes de opinião, que transmitissem as suas experiências positivas. Nasceu, assim, a Fundação Confiança (www.fundacionconfianza.es), que congrega as grandes empresas cotadas no índice bolsista espanhol Índex 35, o manifesto, com acções específicas que serão operacionalizadas no futuro, e o site (http://estosololoarreglamosentretodos.org/) onde se pode encontrar exemplos de algumas vivências inspiradoras.
Para David Lacasa “este é um movimento de Espanha para Espanha, assente nos valores do próprio país e que pretende fomentar o empenho das pessoas e das empresas em encontrar alternativas”.
Carlos Coelho, director da Ivity, a quem o Imagens de Marca pediu que comentasse esta campanha diz: “Espanha sempre fez questão de ser conhecida no mundo pela sua elevada auto-estima. A crise, mais do que graves consequências económicas, fez ruir esse edifício identitário. A sociedade espanhola está ferida no seu íntimo e está a começar a reagir de uma forma muitíssimo inteligente”.
Este especialista refere, ainda, outras campanhas desenvolvidas no país vizinho, como a “I Need Spain”, que apela ao “consumo” do pais, na primeira pessoa.
“Ala Obama comunicattion style (bottom up) esta inteligentíssima iniciativa, novamente na primeira pessoa, dá voz à classe média activa e não resignada apelando ao “cá nos arranjamos entre todos” como forma de regimentação de um exército de voluntários anónimos que sejam capazes de restabelecer a confiança da sociedade, contagiando com o seu genuíno optimismo da mesma forma que se contagia com o, por vezes falso, pessimismo”, disse Carlos Coelho, que espera que esta iniciativa “sirva de exemplo a outros países, nomeadamente aos que parecem esquecer-se de que as crises são apenas desafios à capacidade de reinvenção dos povos”.
O Imagens de Marca falou também com Isabel Canha, directora da revista Exame e autora do livro “As mulheres normais têm qualquer coisa de excepcional”, para quem este movimento espanhol poderá não trazer grandes consequências económicas imediatas, no crescimento do PIB daquele país ou no decréscimo da taxa de desemprego. Mas é um começo! “
“Creio que sem esperança, sem ânimo, sem algum optimismo se torna objectivamente mais difícil ultrapassar as dificuldades, de qualquer ordem. Até as económicas”, defendeu.
Em Portugal… que optimismo?
Quando o país é Portugal, Isabel Canha lembra que estamos “muito necessitados de uma dose de alguma alegria e optimismo. Claro que isso não nasce de geração espontânea, sem qualquer base na realidade; tem de ser fomentado por alguns sinais positivos. Mas, sim, como afirma o movimento espanhol, “temos que contagiar a confiança, da mesma maneira que se contagiou o pessimismo””.
E é isso mesmo que provam os percursos de vida das cinco mulheres de que Isabel Canha fala no seu livro: a piloto Elisabete Jacinto, a executiva Soledade Carvalho Duarte, a pimeira-dama Maria Cavaco Silva, a autora e apresentadora do Imagens de Marca, Cristina Amaro, e a actriz Leonor Baldaque. “São, tal como os vídeos inspiradores do site do movimento espanhol, histórias de pessoas comuns, que enfrentam as mesmas dificuldades que todos nós, mas que com essa atitude optimista chegaram mais além”, conclui.
Já Carlos Coelho confessou-se ao Imagens de Marca “contagiado pela vontade de contribuir para espoletar em Portugal uma iniciativa” semelhante à espanhola.
“Portugal não tem o orgulho ferido, mas tem uma crise de confiança e tem uma depressão prolongada que urge destroçar”, lembra o director da Ivity, que vai mais longe aos dizer que “aprender com Espanha não é humilhação nenhuma”.
Para Carlos Coelho “a economia são as pessoas e por isso está na hora de libertarmos a energia criativa dos portugueses, dando voz aos anónimos de sucesso que podem ser os agentes de contágio de um grande movimento que se poderia chamar www.portugalsoueu.pt, onde cada um assumiria a sua cota parte do sucesso do país e onde mostraríamos ao mundo porque é tão grande, talvez até maior que Espanha, a alma de Portugal”.
Anónimos de sucesso
Soledade Carvalho Duarte trabalhava desde 1989 na Transearch, quando em 1992 é posta perante a possibilidade do fecho da empresa. O dono ia reformar-se, e acabou por lhe propor a compra de uma quota da consultora. “Estávamos numa fase difícil, vivíamos uma crise, e eu tive de decidir entre procurar outro emprego ou tentar aproveitar uma empresa que estava bem, mas com muito poucas perspectivas de negócio”.
A decisão estava tomada e aos 29 anos, acabada de ter a sua terceira filha, agarrou a oportunidade, apesar de todas as dificuldades com que se deparou.”O que fiz? Agarrei-me com “unhas e dentes” a dois clientes para os quais estava à procura de Quadros e esforcei-me ao máximo para lhes dar o melhor resultado possível”.
Com uma nova crise à porta, Soledade Carvalho Duarte, afirma estar a recorrer à receita usada em 1992 – “Fazendo muito bem o meu trabalho. Agarrando-me aos meus clientes com muita força, “entregando” um trabalho de grande qualidade, procurando fazer cada vez melhor e, se tenho mais tempo disponível, dedico-o aos projectos que tenho em mãos”.
“O que torna a crise, mais crise e mais difícil de resolver é a forma pessimista como a encaramos. A queixarmo-nos, a procurar culpados para a situação em que nos encontramos, e em deixar constantemente aos “outros” a responsabilidade de resolver a crise, não vamos conseguir sair dela”, conclui.
A empresária espreitou o link do movimento espanhol e diz: “O movimento que surge em Espanha e nos chega através deste site é extraordinário! Em Portugal deveria surgir algo semelhante e a forma mais fácil de o operacionalizar seria adaptá-lo para cá. Para começar e ser mais fácil, bastaria com a autorização dos responsáveis pelo movimento e pelo site pôr um link para uma versão em português, e divulgando-o associarmo-nos a este movimento”.
Também Dunia Reverter é outro caso onde o empreendedorismo falou mais alto. Depois de 13 anos na multinacional General Electric e seis como administradora da GE Money Portugal, de onde saiu em Janeiro deste ano, decidiu abraçar o seu próprio negócio e, em Maio, fundou a Ecoburn, uma empresa que tem como missão promover a comercialização e instalação das melhores soluções de eficiência energética existentes no mercado internacional.
As dificuldades não se fizeram esperar: “Por muito que queiramos antecipar cenários as coisas nunca decorrem como tencionamos, e temos de lidar com atrasos, falhas com as quais não estávamos a contar, ineficiências das mais variadas formas e vindas dos mais variados stakeholders”, além do desfavorável clima económico.
Mas, para atenuar os efeitos da crise, Dunia Reverter, tem alguns trunfos na manga. “Evitar riscos de cobrança, facilitar soluções financeiras para a compra do nosso produto, comercializar um produto que ajuda aos nossos clientes a superar a crise, reduzindo custos e tornando-os mais competitivos face à concorrência, e uma visão integrada de um negócio totalmente focalizado no cliente”, são a técnicas indicadas.
António Queiroz, 30 anos, curso de Publicidade do IADE, acabado em 2006. Até 2009 trabalhou em consultoria informática, altura em que ficou desempregado.
Depois de frequentar o curso do CUPAV, “História do Futuro”, resolveu criar o seu próprio projecto, na área da comunicação de desenvolvimento territorial. O projecto está feito, e António está na fase de procurar um modo de o financiar. E se tudo correr bem, em Abril arrancam já dois projectos-piloto. Mas, como o segredo é a alma do negócio, António Queiroz não quiz revelar mais pormenores.
Espanha já deu o pontapé de saida com esta campanha inovadora e inspiradora, onde o optimismo e o empreendedorismo se tornam na imagem de marca de um povo. Será que Portugal lhe seguirá o exemplo? Carlos Coelho deixa o repto em cima da mesa…
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