30 de julho de 2008

Reportagem





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A história de D. Henrique ficou perpetuada na História de Sagres e de Portugal. Cerca de seis séculos depois, o país homenageou os feitos do Infante dando o seu nome a uma via, recentemente galardoada com o estatuto de auto-estrada.


Os 129 quilómetros que aproximam Lagos da fronteira com Espanha são uma linha que une pontos litorais, deixando para norte as histórias dum interior mais seco e abrasador. Mas foram sobretudo o nosso fio condutor para uma viagem que começámos no século XV, para nos lançarmos no presente a outros casos de empreendedorismo, em Monchique, Querença, Loulé e Tavira.


Nem sempre a Via do Infante uniu de fio a pavio as histórias visitadas. Mas a iniciativa do homem que ajudou a determinar o futuro do país no século XV, espelha-se hoje a Este e a Oeste, a Norte e a Sul do Algarve. Uma região vista por muitos como um destino (turístico), mas com muitas mais riquezas por descobrir.


 


Saúde e Bem-estar de um só trago


A calma de Monchique pode não ter preço, mas é engarrafada aos 5 litros de cada vez numa fonte de água com comprovados benefícios para a saúde, depois de um abastado pic-nic à sombra da serra. Ao lado dos rituais estivais, coabitam a fábrica de águas e a vila termal. Dois sectores que vivem de uma Natureza próspera, em que, ora um é requisitado por mercados nacional e internacionais, ora outro é procurado pelos fins terapêuticos e relaxantes.


Numa sala com vista para os tapetes rolantes de garrafas, António Simões Pinheiro, Administrador da Sociedade da Água de Monchique, fala da nova gama de águas, lançada em Maio deste ano. Uma é azul de logótipo branco, outra tem-no preto a contrastar no transparente. São as novas embalagens Chic, uma marca criada para alcançar um novo segmento. “Beber água está na moda e as águas premium estão ainda mais na moda. São uma tendência corrente para a degustação em momentos especiais. A maior parte dos nossos concorrente tem vindo a diversificar pelo benefício ou pela funcionalidade do produto, mas nós como empresa mais pequena, querendo inovar, aquilo o que fizemos foi diferenciar pelo momento de consumo”, explica o director.


Embalagens e mercados à parte, a água é sempre a mesma e provém das fontes de Monchique, local onde a mesma sociedade é detentora de uma vila termal, composta por cinco pequenas unidades hoteleiras e um SPA e alguns serviços de apoio. Descendo as escadas até à Buvette, uma casa com a função de bebedouro, os utentes já estão rendidos. Mas, se dúvidas houver, logo por cima das torneiras e dos copos de plástico, estão enormes quadros com a composição química do bem mais procurado por estas terras, a água. Os benefícios terapêuticos são múltiplos e actuam desde o sistema respiratório ao músculo-esquelético, mas é o bem-estar aliado à localização da vila que, actualmente e de acordo com os responsáveis, atrai maioritariamente casais entre os 25 e os 50 anos. “São as únicas termas a Sul do Tejo e estão perto da praia. Por outro lado, são as únicas termas situadas que estão integradas num hotel”, explica Tiago Barata, director-geral da Vila Termal de Monchique, ao defender a unicidade do complexo.


Os trajes mais comuns confirmam o relaxamento próprio da ocasião. Fatos de banho e roupa casual é o que mais se vê sobre os corpos. Entre um mergulho na piscina e uma refeição leve nas esplanadas, circulam pelo vale até que chegue a hora de um novo tratamento.


 


O Chocolate do Algarve


Subindo pela serra a partir de Loulé, o Sol que pára em Querença queima a pele e amadurece a terra. É aí que encontramos alfarrobas a enegrecer. Um fruto mediterrânico cujo sabor é por muitos comparado ao do chocolate, quando aplicado em doçaria, e que serviu de inspiração a Carlos Faísca no dia em que decidiu baptizar a sua nova empresa. “Como tinha algum conhecimento dos licores que se faziam aqui na zona, tentei. Acabei por me lembrar de fazer um de alfarroba, que antes não havia. Saiu tão bem que hoje é dos que mais vendemos. Entretanto recuperámos um doce e como tínhamos dois produtos à base de alfarroba, lembrei-me desse nome. Mas como nós, algarvios, dizemos ‘farrobas’ em vez de ‘alfarrobas’, ficou o diminutivo”, explica o proprietário da pequena fábrica de produtos regionais. A Farrobinha cresceu junto à Igreja de Querença e aí permanece à espera de autorização camarária para continuar a crescer, numa terra em que a denominação de zona protegida dificulta grandes expansões. No primeiro andar, as salas são invadidas pelo cheiro da alfarroba que está a borbulhar na calda na cozinha ali ao lado. Antes de lá chegarmos, passamos por três senhoras que preparam os frascos com rótulos e embalagem a rigor. Mas é logo ali, após o último degrau que estão expostos licores, doces e azeites à espera de quem se deleite com as iguarias da região. Pedaços do Algarve que invertem a História e já deram início à conquista do resto do país onde estão a ser comercializados.


 


Terra Salgada


O sal de Loulé e Tavira viaja para dentro e fora de Portugal com finalidades tão distintas como a terra é do mar. A 230 metros abaixo do solo, os olhos habituam-se à escuridão do espaço. Na profundidade da mina de Cantina de Cima, em Loulé, só conhecemos o primeiro de quatro pisos. Chão, tecto e paredes de sal-gema, estendidos por quilómetros a perder de vista. No ar é por vezes visível o pó que sempre se entranha na roupa, na pele e em tudo o que por ali passe. Também ele é de sal e, garantem os responsáveis pela mina, tem finalidades terapêuticas muito populares entre os doentes asmáticos. “Os meios de medicina ainda não tornaram isso como uma certeza, mas sabemos nós que as pessoas ligadas a estes meios em geral não têm asma. Por outro lado, as pessoas que vêm sentem-se melhor”, conta Alexandre Andrade, director-técnico da mina, explorada pelo Grupo CUF desde o início da década de oitenta. Razões suficientes para ver neste espaço rentabilidades ainda por explorar. Para além da produção, que actualmente atinge as 50 toneladas por hora e se destina aos mercados francês, holandês, espanhol e português para o degelo que a segurança rodoviária exige em zonas de maior altitude, estão em estudo projectos que poderão fazer da mina um armazém, um museu, ou mesmo um hotel dedicado à saúde e ao bem-estar. Ideias que por enquanto tomam forma apenas nos circuitos internos do Grupo, mas que a se concretizarem tornam o Algarve num alvo de investimento pioneiro em Portugal.


Rumo a Este, à beira das águas tranquilas de Tavira, encontramos os 13 hectares de salinas exploradas por Rui Simeão. Herdeiro em quinta geração dos talhos de água marinha e da profissão de salineiro, é um homem orgulhoso da “fina película de cristais que flutuam no leite rosado dos talhos, posteriormente embalados sem sofrer qualquer alteração” que faz a sua marca andar na boca de meio mundo. Trata-se da flor de sal, conhecida por coalho entre os profissionais das salinas e considerada hoje uma iguaria, com presença nas cozinhas dos mais famosos chefes e vendida em lojas gourmet. Para Rui Simeão é ainda símbolo de uma luta pela qualidade da produção tradicional. “A minha família tentou comercializar esse produto há cerca de 45 anos e não podia porque saiu uma legislação que dizia que o sal para ser alimentar tinha de ser tratado, seco, lavado, etc. nas grandes multinacionais”, conta o produtor, que hoje-em-dia se vê a braços com outras lutas que vai mencionando enquanto fala do seu percurso: “estou à espera de uma Denominação de Origem Protegida, como nós vemos à semelhança do vinho do Porto e de outras coisas que satisfazem determinadas normas de segurança alimentar”. Enquanto a denominação não vem, há para mostrar um palmarés. Em 2008, e pelo terceiro ano consecutivo, a flor de sal foi distinguida pelo pelo Instituto Internacional de Sabor e Qualidade (ITQI) com duas em três estrelas. Todos os anos Rui Simeão produz 60 a 80 toneladas de flor de sal e 800 a 1000 toneladas de sal tradicional. Um negócio de família que pretende continuar a satifazer os paladares mais exigentes, no futuro.


 

Avalie este artigo 1 estrela2 estrelas3 estrelas4 estrelas5 estrelasO Imagens de Marca foi conhecer a fundo mais uma região portuguesa. O Algarve, de Sagres a Tavira. Longe das povoações atribuladas e repletas de estrangeiros. Levantamos o véu do que pode ver na emissão desta semana na Sic Notícias.

 

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