4 de fevereiro de 2011

Reportagem

2011 é o ano em que a anunciada crise está para ficar. Mas, 2011 é também um ano de mudanças, de novas apostas e estratégias para as marcas, não ficando naturalmente de fora um planeamento cuidado dos meios onde investir. Neste âmbito, o Imagens de Marca foi saber junto do mercado quais as grandes apostas para este ano no que diz respeito ao planeamento de meios para as campanhas de publicidade.


 


As respostas são unânimes: a Internet vence, enquanto a escolha da imprensa e do cinema para colocação de publicidade manterá a tendência de queda do ano passado.


 


Quem o diz são os representantes das agêngias de meios que o Imagens de Marca entrevistou: Rogério Canhoto, CEO da Havas Media, e Cristina Carrasqueira, Managing Director da PHD


 


Mas não só. Também falámos com Carmo Leal, investigadora do Marketing FutureCast Lab e docente de Comunicação Integrada no ISCTE-IUL, que pode ler aqui:


 


 


Imagens de Marca (IM): Qual o cenário que faz para o mercado do planeamento de meios por parte das empresas/publicidade em 2011?


Carmo Leal (CL): Considerando o que tem sido a evolução e a repartição dos investimentos publicitários, parece claro que a aposta será, cada vez mais, no rich-media, isto é, publicidade na internet que incorpora animação, som ou interactividade qualquer que seja o formato. Contudo, mais importante do que o meio, a grande aposta das marcas será na disponibilização de experiências. Novas tendências como o tryvertising (a oportunidade de experimentar em contexto relevante) e a produção de conteúdos pelos consumidores de informação têm grande potencial de crescimento, num contexto em que a comunicação publicitária é, crescentemente, consumida se, onde e quando a queremos consumir.
Em face da inevitável racionalização de orçamentos de comunicação, a tendência será para privilegiar os meios que possibilitem interactividade e bi-direccionalidade de mensagens.
Por outro lado, o contexto de recepção das mensagens afirma-se, cada vez mais, como decisivo: técnicas como o product placement, a publicidade patrocinada ou o search media (quando bem concebidos) podem ser mais ‘naturais’ e menos intrusivos do que os meios tradicionais.
Contudo, é preciso dizer que o problema não está nos meios mas sim na irrelevância e na desadequação dos conteúdos em função dos públicos-alvo.


 


IM: Quais serão os meios mais penalizados, onde as empresas vão apostar menos para colocar a sua publicidade, e porquê?
CL:
A imprensa tem sido, aparentemente, a grande perdedora com a deslocação de consumidores/leitores para o digital, ainda que se assista a um acréscimo de publicações especializadas, que podem ter um interesse especial para as marcas apostadas em anunciar nos meios mais direccionados.
A personalização de conteúdos e a possibilidade de se poder seleccionar os programas e gravá-los sem blocos publicitários (veja-se, por exemplo, o caso do TIVO) coloca um desafio enorme à televisão já que as pessoas podem facilmente saltar as mensagens publicitárias que considerem irrelevantes.
Paralelamente, é preciso não esquecer que a publicidade nos meios digitais, ao mesmo tempo que possui grande potencial de atractividade e de especialização, pode também ser extraordinariamente intrusiva e até irritante, pelo que não é pelo facto de ser digital que a publicidade é automaticamente mais eficaz.


 


IM: Como acha que estes meios podem dar a volta à situação?
CL: 
A receita não tem muito que saber; criatividade, ousadia e relevância dos conteúdos. Se a mensagem valer a pena, o próprio consumidor a procurará. Basta ver o caso dos milhares de pessoas que procuram proactivamente no Youtube cada novo filme da Pepsi ou da Nike, por exemplo.
O envolvimento do receptor é fundamental; privilegiamos o que nos faz rir, o que nos emociona, o que nos toca de alguma forma. Promessas como “a melhor qualidade ao melhor preço”, mesmo numa altura de dificuldades económicas, não são já atractivas para um consumidor que pode e sabe filtrar a informação que quer receber.
Assim sendo, qualquer que seja o meio ou o suporte, o segredo está na veracidade e na oportunidade das promessas publicitárias e não no canal. Por parte dos meios, a aposta será na flexibilidade e no conhecimento das suas audiências, por forma a poder oferecer uma melhor adequação das mensagens aos públicos.


 


IM: O Internet Mozilla e o Google estão a criar as condições técnicas para que os utilizadores só fecham (vejam) a publicidade se assim o pretenderem. Como analisa esta medida e que repercussões terá no mercado.


CL: É inevitável. Se, por exemplo, na TV, a lei obriga a que sejamos avisados quando se inicia um bloco publicitário, por que motivo temos que ser assaltados por uma pop-up indesejável quando procuramos uma informação na internet? E por que razão esse anúncio invade totalmente o nosso espaço e é, por vezes, difícil de fechar?
A vulgarização de tendências desta natureza obrigará, naturalmente, os anunciantes e os meios a colaborarem no sentido de não espalharem lixo que o consumidor não que ver. Se eu estiver verdadeiramente interessado em receber informação publicitária sobre modelos de automóvel (por estar a ponderar comprar um) ou se tiver uma relação de envolvimento com as minhas marcas preferidas, procurá-la-ei no momento e na medida certa.
Estes condicionalismos obrigarão as marcas a tornarem-se mais transparentes e a terem promessas mais verdadeiras. Mensagens feitas por seres humanos para seres humanos, que têm vontade de se informar e que não pretendem ver a sua vida invadida por intrusos.
A verdade é que, nesta “guerra” entre consumidores e empresas, o poder, as ferramentas e a informação estão claramente do lado do consumidor. Às marcas e aos meios, só lhes resta tornarem-se verdadeiramente parceiros dos públicos e tratá-los com respeito.

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