Avanços
«Os homens são como as moedas; devemos tomá-los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho»,
Carlos Drummond de Andrade
Nem os tons de cinza de um Inverno particularmente rigoroso, nem as faces ocultas da caixa que mudou o mundo, nem as escutas que o caduco sistema judicial permite, nem as pinceladas de pessimismo que diariamente minam a confiança dos portugueses, foram suficientes para ofuscar as estrelas que mais alto brilharam esta semana.
Não me recordo de, num tão curto espaço de tempo, notáveis portugueses serem nomeados para cargos de tanto prestígio.
Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, viu a sua equipa aprovada pelo Parlamento Europeu para mais um mandato. Apesar de críticas, o seu passado no domínio da diplomacia e os avanços obtidos na construção europeia, têm sido abonatórios para o reconhecimento da confiança que as instituições europeias depositam no português.
João Vale de Almeida, até agora Director-Geral de Relações Externas da União Europeia (UE), foi nomeado para embaixador da UE em Washington, um dos mais altos cargos da diplomacia da Europa a 27, uma vez que o estatuto de embaixador passou a estar consagrado no Tratado de Lisboa. Esta escolha é o resultado do reconhecimento do trabalho que o português tem vindo a desempenhar, quer como chefe de gabinete de Durão Barroso, quer como diplomata, um dos mais prestigiados funcionários portugueses ao serviço das instituições comunitárias.
Vítor Constâncio foi eleito para o cargo de vice-Presidente do Banco Central Europeu, colhendo o consenso de treze dos dezasseis Ministros das Finanças dos Estados-membros que têm o poder para confirmar a decisão do Eurogrupo. Numa primeira fase, que terá início em Junho, Vítor Constâncio vai ficar responsável pela supervisão financeira e pelo Conselho Europeu de Risco Sistémico. Esta indigitação comprova o reconhecimento pelas qualidades técnicas e pelo prestígio da carreira do português, actual Governador do Banco de Portugal.
Três exemplos, numa só semana, que contribuem para o prestígio dos portugueses e de Portugal, quer pela importância dos cargos, quer pelas qualidades técnicas e de experiência profissional que exigem.
Há competência nos diversos quadrantes. Afinal, há estrelas que brilham por detrás da densa camada de nuvens que persiste neste frio e duro Inverno.
Recuos
«O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade»,
François-Marie Arouet
A natureza dos avanços desta semana contrasta com um preocupante recuo. Segundo os números oficiais publicados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal fechou o ano de 2009 com uma taxa de desemprego superior a 10 por cento, fixando a média anual nos 9,5 por cento, acima da média dos 27 países da União Europeia (8,9 por cento).
É particularmente alarmante a ausência de estratégia sobre o aproveitamento do potencial de desenvolvimento do capital humano português, que ameaça comprometer a capacidade de criação de valor futuro. É que, de acordo com a mesma informação publicada, a taxa de desemprego entre os jovens atingiu os 22,2 por cento, em Dezembro de 2009, fixando a média anual em 20 por cento.
As dificuldades de resolução dos nossos problemas estruturais está a revelar-se. Arrisco a afirmar que estamos a viver as consequências da incapacidade de atrair níveis interessantes de investimento estrangeiro devido à contínua perda de competitividade do país. Nomeadamente, por via de um modelo fiscal não ajustado ao necessário quadro de competitividade fiscal internacional, por via das dificuldades em garantir celeridade na aplicação da justiça e pela contínua indefinição sobre a estratégia a seguir ao nível do quadro económico de desenvolvimento de fontes de vantagens competitivas que alimentem o crescimento das exportações de bens e serviços.
Nem me atrevo a falar sobre a estratégia de Portugal para a educação e a formação profissional, pois os dramáticos resultados são evidentes…
Quadro Resumo da semana
AVANÇOS
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RECUOS
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Balanço da semana
AVANÇO – nos dias que correm, nomes como Durão Barroso, Vale de Almeida e Vítor Constâncio contribuem para alimentar a esperança de Portugal sair mais prestigiado internacionalmente, apesar de ser tantas vezes tão mal tratado entre portas.
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