6 de outubro de 2010

Mercados Lusófonos

Avanços


 


«A cultura está acima da diferença de condição social»,


Confúcio


 


Com alma lusa, a EDP levou alento a um campo de refugiados no Quénia. Trata-se de uma comunidade que escapou à guerra no sul do Sudão. Estávamos em meados da década de 90 e muitos foram os que escaparam, deixando para trás os seus pais e restantes familiares. São a denominada lost boys generation, que se viu obrigada a partir, sem nada, para terras desconhecidas.


Hoje, os rapazes da lost boys generation vivem no campo de refugiados de Kakuma, gerido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), presidido pelo português António Guterres. Recentemente, receberam a visita de António Mexia, Presidente da EDP. A eléctrica portuguesa decidiu avançar para a implementação de dez projectos de utilização de energia renovável naquele campo, ajudando assim ao desenvolvimento económico, cultural e social daquela população. Um dos projectos baseou-se no fornecimento de 4 mil e quinhentas lanternas com baterias recarregáveis através de energia solar. Deste modo, os estudantes poderão utilizar a sua iluminação para estudar à noite, uma vez que a maior parte das habitações não tem energia eléctrica.


A EDP classifica esta iniciativa não como uma acção de caridade, mas sim um exemplo de como a energia renovável pode ajudar ao desenvolvimento económico e social, acalentando a esperança por um futuro melhor junto de populações carenciadas.


Este é um exemplo do que os portugueses têm de melhor quando estimulados a ultrapassar e a ajudar a ultrapassar dificuldades: sentido de desenvolvimento social e humano.


 


Recuos


 


«A liderança é a capacidade de conseguir que as pessoas façam o que não querem fazer e gostem de o fazer»,


Harry Truman


 


Sacrifícios. São os que o Presidente da República já antevia como essenciais no seu discurso do Ano Novo (lembram-se?). Ao décimo mês, os sacrifícios materializaram-se sem chama… É preciso porque é preciso. O povo português não sabe porquê, não acredita nos governantes e não percebe as razões que levam a tamanho pacote de austeridade. Em décadas anteriores, os mais altos responsáveis pelos destinos da Nação dirigiam-se aos cidadãos, comunicando, explicando as dificuldades e a necessidade de mobilização colectiva.


O povo português tem como característica a capacidade para se mobilizar perante causas. Alguns exemplos ilustram a energia colectiva que, quando estimulada, é capaz de fazer coisas extraordinárias. Lembro apenas a causa de Timor e, mais recentemente, a mão dada aos nossos concidadãos madeirenses.


Sacrifícios, imagem de marca do povo português, que se sacrifica sem saber as razões das medidas implementadas pelos governantes que elegeu.


Mais uma vez, as medidas são implementadas tardiamente, resultado de um «tem de ser» sem chama, sem alma e sem sentido.


Comunica-se mal. Bastava que se dissesse porque razão, quais os objectivos e o que vamos fazer a seguir. Afinal, sentimos que vamos todos pagar mais, mas sem saber porquê e para ajudar a construir o quê, e ainda por cima sem a garantia que no futuro não volte a acontecer o mesmo.


Afinal, bastava aprender com as lições extraídas de Mário Soares ou de Ramalho Eanes quando pediram sacrifícios aos portugueses nos tempos difíceis vividos por todos no início da década de 80.


A credibilidade da marca Portugal, mais do que essencial para a nossa interacção com os mercados internacionais, começa por construir-se cá dentro. Como numa empresa. A sua marca só tem valor e credibilidade junto dos seus públicos quando os seus trabalhadores acreditam nela.
 


Quadro Resumo da semana


 







AVANÇOS 


A austeridade não afasta medidas de desenvolvimento humano. E aí, os portugueses têm história.


 


RECUOS
Austeridade a «seco». Sem comunicar bem e sem apontar um rumo, Portugal perde.


 


Balanço da semana


RECUO – Mais uma semana de recuos para a construção da marca Portugal. O pacote de medidas de austeridade é necessário, peca por tardio, e não apresenta solução alternativa. O problema reside na dificuldade que os nossos dirigentes têm na mobilização do povo português para as verdadeiras causas nacionais. Porque falta dizer quais os objectivos e o que propõem para depois. E a isso chama-se falta de liderança.

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