Avanços
«A coisa mais cansativa na vida é não ser autêntico.»,
Anne Lindbergh
Demoramos a descobrir as nossas riquezas. Definitivamente, o nosso forte é fazer coisas decorrentes da nossa autenticidade e da nossa capacidade de trabalho, de mão-de-obra propriamente dita. E, às vezes, esquecemo-nos que é na autenticidade que está a nossa capacidade de gerar valor e de fazer da marca Portugal uma marca geradora de valor.
Estou a falar do Douro. O vinho já existia e os ingleses, no século XVII potenciaram-no explorando as qualidades da produção daquela região tornando-a incontornável no roteiro vitivinícola mundial. A exploração da vinha no vale do Douro mudou a paisagem tornando-a única impressionando quem a visita. Ninguém fica indiferente aos socalcos que descem as serras partindo do cume, beijando a água do Douro nas suas margens. Os tons bucólicos da luminosidade ímpar e do profundo silêncio do vale deixam para trás o stress das urbes do litoral, à medida que vamos subindo o rio, mergulhando na profunda paisagem em escada, à qual foi conferido o estatuto de Património da Humanidade pela UNESCO em 2001.
Paulatinamente, o Douro está a entrar nos roteiros do turismo nacional e internacional. São cada vez mais os turistas que visitam a região. O ano de 2010 é um «ano vintage» para o turismo do Douro, uma vez que se ultrapassou a capacidade das 3 mil camas com a multiplicação da oferta hoteleira. Em 2009, terão sido cerca de 20 mil os turistas que usufruíram da experiência dos passeios fluviais.
Uma recente «descoberta» para a criação de valor: o potencial turístico do Douro. Certamente que, ao referir-me à «marca Douro», muitas outras me ocorrem quando penso nas imensas potencialidades de desenvolvimento turístico em Portugal. Afinal, um país próximo dos mercados interessantes do ponto de vista de poder de compra e de tempo afecto ao turismo (por exemplo, o segmento sénior dos países da Europa do Norte e Central), oferecendo natureza, cultura, história, num ambiente incomparavelmente mais seguro face a outras ofertas mundiais.
Recuos
«Perder tempo a aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas mais interessantes.»,
Carlos Drummond de Andrade
Como português optimista e positivo, recuso-me a falar da latente crise orçamental. Partindo do pressuposto que isso é desde logo um recuo, só nos resta falar de outros recuos, tê-los presente e ultrapassá-los. Só assim diagnosticamos os problemas e partimos para o encontro das soluções.
As últimas duas décadas do século XX ficaram marcadas pelo sistemático abate da frota pesqueira portuguesa. Agora, ressuscita a ideia do mar como a última fronteira do potencial de riqueza do país «à beira-mar plantado». O território marítimo sob jurisdição portuguesa é quase 20 vezes superior ao território terrestre. Recentemente, Portugal iniciou um processo de candidatura que poderá levar a sua jurisdição marítima a 40 vezes o território terrestre, tornando-se num dos maiores do mundo.
São incalculáveis as riquezas que Portugal poderá encontrar no mar. A indústria do mar pode ser um importante factor estrutural para o crescimento económico português. Mas a classe política, ao invés de discutir o relançamento das bases estruturais de desenvolvimento de Portugal, gasta todos os recursos na luta político-partidária desperdiçando o momento. Pois, é nos momentos de crise que se aprende com os erros e se encontram os estímulos para fazer melhor e evitar cair nos mesmos erros nas gerações futuras.
Alguém duvida que as questões orçamentais de curto prazo passam inevitavelmente por uma redução na despesa pública? Partindo do pressuposto que tal é incontornável, interessa que, paralelamente aos mais do que certos sacrifícios que aí vêm, se pense no longo prazo, discutindo uma estratégia para Portugal. Não me lembro de ter ouvido ou lido tal discussão…
Quadro Resumo da semana
AVANÇOS Há exemplos de um Portugal com valor. O Douro é um bom exemplo de uma marca que tende a descolar do marasmo. RECUOS
Cortes drásticos, lutas político-partidárias, mas ausência de discussão sobre a estratégia para Portugal. «Marasmo à vista».
Balanço da semana
RECUO – Só se fala em sacrifícios, mas não se discute a estratégia de relançamento do crescimento económico. Não se discute como «sair do marasmo».
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